Entrevistada: Profª Drª Simone da Conceição Silva[i]
Thaymara Assis: Professora, qual a sua principal memória na UFF Campos?
Simone Silva: A primeira memória que me vem à mente gira em torno de dois momentos
complementares: a primeira tem a ver com a minha primeira turma de Ciências
Sociais da UFF, após passar no concurso; uma turma de 4⁰ período no ano de
2011, composta por alunas e alunos que já estavam no meio do curso e que seria
a primeira turma a se formar no curso de Ciências Sociais da UFF Campos. Foi
muito significativo porque eles tinham mais vivência na UFF Campos do que eu.
Geralmente é o contrário, pois o corpo docente tende a estar na universidade há
mais tempo do que o alunado, ou seja, têm mais experiência nesse espaço que o
corpo discente. E a lembrança que guardo dessa turma é de muita receptividade e
acolhimento. Nossas trocas frequentes me marcaram, foi uma experiência muito
boa nesse sentido. Ainda sendo
professora deles, no meio do caminho, engravidei. Carrego a memória o sapatinho de bebê que uma das alunas fez e
presenteou a minha filha; um sapatinho amarelo, que expressa desejo de saúde e
sorte. Essas experiências ficaram
marcadas de fato. Nessa turma, duas ou três alunas começaram a participar do
meu grupo de pesquisa, que na ocasião estava em processo de construção. Ainda
tenho contato com dois alunos dessa turma, um desses estudantes em específico,
inclusive, acompanho e fui membro da banca dele de mestrado e ainda mantemos
contato.
Thaymara Assis: Como a UFF Campos impactou na sua trajetória profissional?
Simone Silva: Ela é parte da minha formação enquanto profissional. Eu exerci a
docência, antes de vir para a UFF, como professora de uma universidade privada
católica. Evidentemente tive um aprendizado nessa instituição, contudo, nas
universidades públicas você tem muito mais autonomia e um espaço de criação
amplo que envolve muito trabalho, mas também envolve muito aprendizado e
crescimento. Acredito que o ponto mais
importante da UFF, visão essa que tenho como ex-aluna de ciências sociais e
atualmente como professora, tem a ver com esses espaços de criação. Obviamente
o espaço sofre mudanças, mas a oportunidade de criação continua sendo um
importante aspecto pelo qual devemos lutar permanentemente por sua garantia. .
Thaymara Assis: Poderia nos contar um fato curioso que tenha vivenciado na UFF Campos?
Simone Silva: Eu tenho um fato curioso que não é cômico, na verdade, eu fiquei
positivamente surpreendida quando eu passei uma experiência de violência de
gênero em uma turma e os alunos e alunas da época me defenderam. Eles se
engajaram em uma série de atividades para que pudéssemos debater não só o meu
caso. Na verdade, o meu caso foi o estopim para que eles levassem essa
discussão para dentro do curso e compartilharam com outros alunos que não
souberam de imediato do meu caso, sem necessariamente fazer a exposição pessoal
do que vivenciei em específico. Inclusive, participei de uma mesa que eles
organizaram na época, onde levantaram esse assunto importante para debate e
evitar a repetição desse acontecimento, poupando a descrição em particular do
meu incidente.
Em geral, dado os múltiplos aspectos que marcam a
relação entre docente e discente, a relação de reciprocidade entre eles não é
algo dado. E no meu caso, não só a turma como o Centro Acadêmico, fizeram uma
leitura muito assertiva de que não era apenas necessário tratar sobre o caso,
mas também trazer o tema que permeia nossas vidas como alunas, professoras e
funcionárias. Acontecimentos que eu nunca tinha presenciado até então, passaram
a ser falados nas rodas de conversa. Sou muito grata a esses alunos que fizeram
esse levante. Fico aliviada que esse tema passou a fazer parte da agenda e
começou a ser discutido.
[i] Possui graduação em Ciências Sociais
pela Universidade Federal Fluminense (2001), mestrado (2004) e doutorado (2010)
pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional - UFRJ. É professora no departamento de Ciências
Sociais da UFF e coordenadora do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos
Rurais/UFF.
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