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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Diálogos em memórias com Simone Silva

 Entrevistada: Profª Drª Simone da Conceição Silva[i]

Thaymara Assis: Professora, qual a sua principal memória na UFF Campos?

Simone Silva: A primeira memória que me vem à mente gira em torno de dois momentos complementares: a primeira tem a ver com a minha primeira turma de Ciências Sociais da UFF, após passar no concurso; uma turma de 4⁰ período no ano de 2011, composta por alunas e alunos que já estavam no meio do curso e que seria a primeira turma a se formar no curso de Ciências Sociais da UFF Campos. Foi muito significativo porque eles tinham mais vivência na UFF Campos do que eu. Geralmente é o contrário, pois o corpo docente tende a estar na universidade há mais tempo do que o alunado, ou seja, têm mais experiência nesse espaço que o corpo discente. E a lembrança que guardo dessa turma é de muita receptividade e acolhimento. Nossas trocas frequentes me marcaram, foi uma experiência muito boa nesse sentido.  Ainda sendo professora deles, no meio do caminho, engravidei. Carrego a memória o   sapatinho de bebê que uma das alunas fez e presenteou a minha filha; um sapatinho amarelo, que expressa desejo de saúde e sorte.  Essas experiências ficaram marcadas de fato. Nessa turma, duas ou três alunas começaram a participar do meu grupo de pesquisa, que na ocasião estava em processo de construção. Ainda tenho contato com dois alunos dessa turma, um desses estudantes em específico, inclusive, acompanho e fui membro da banca dele de mestrado e ainda mantemos contato.

Thaymara Assis: Como a UFF Campos impactou na sua trajetória profissional?

Simone Silva: Ela é parte da minha formação enquanto profissional. Eu exerci a docência, antes de vir para a UFF, como professora de uma universidade privada católica. Evidentemente tive um aprendizado nessa instituição, contudo, nas universidades públicas você tem muito mais autonomia e um espaço de criação amplo que envolve muito trabalho, mas também envolve muito aprendizado e crescimento.  Acredito que o ponto mais importante da UFF, visão essa que tenho como ex-aluna de ciências sociais e atualmente como professora, tem a ver com esses espaços de criação. Obviamente o espaço sofre mudanças, mas a oportunidade de criação continua sendo um importante aspecto pelo qual devemos lutar permanentemente por sua garantia. .

Thaymara Assis: Poderia nos contar um fato curioso que tenha vivenciado na UFF Campos?

Simone Silva: Eu tenho um fato curioso que não é cômico, na verdade, eu fiquei positivamente surpreendida quando eu passei uma experiência de violência de gênero em uma turma e os alunos e alunas da época me defenderam. Eles se engajaram em uma série de atividades para que pudéssemos debater não só o meu caso. Na verdade, o meu caso foi o estopim para que eles levassem essa discussão para dentro do curso e compartilharam com outros alunos que não souberam de imediato do meu caso, sem necessariamente fazer a exposição pessoal do que vivenciei em específico. Inclusive, participei de uma mesa que eles organizaram na época, onde levantaram esse assunto importante para debate e evitar a repetição desse acontecimento, poupando a descrição em particular do meu incidente.

Em geral, dado os múltiplos aspectos que marcam a relação entre docente e discente, a relação de reciprocidade entre eles não é algo dado. E no meu caso, não só a turma como o Centro Acadêmico, fizeram uma leitura muito assertiva de que não era apenas necessário tratar sobre o caso, mas também trazer o tema que permeia nossas vidas como alunas, professoras e funcionárias. Acontecimentos que eu nunca tinha presenciado até então, passaram a ser falados nas rodas de conversa. Sou muito grata a esses alunos que fizeram esse levante. Fico aliviada que esse tema passou a fazer parte da agenda e começou a ser discutido.



[i] Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (2001), mestrado (2004) e doutorado (2010) pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional - UFRJ. É professora no departamento de Ciências Sociais da UFF e coordenadora do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos Rurais/UFF.

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