Escrito por Thaymara Assis
de Lima (discente extensionista de Ciências Sociais)[i]
Atualmente
abordar sobre política brasileira não é tarefa fácil. Seja despretensiosamente
em uma conversa ou em uma cobertura jornalística ou até mesmo quando se analisa
e estuda a área cientificamente, como no caso da Ciência Política. De modo
geral, pode-se notar como o tema é percebido de forma sensível e às vezes
hostil pela população. A política brasileira sofre um desprestígio acarretado
pela falta de confiança e pela insatisfação popular em relação à classe
política. Dia após dia, observamos o declínio de interesse e motivação na participação
civil. No momento em que o Brasil é marcado por crises, a desvalorização política
é uma ameaça à vida democrática, pois ao perpetuar-se desprezível, a
consequência inevitável é a ignorância com oportunas chances de crescimento no
desinteresse do povo pela política.
Essa
visão calejada sobre o cenário político brasileiro emaranha-se com a
desconfiança nos atores políticos que estão, ou estiveram no poder político do
país, transformando o conflito entre povo e representantes em um conflito com a
própria política. Marco Aurélio Nogueira, em sua obra Em defesa da política
(2001), adverte sobre converter o atrito com os políticos em um horror
especificamente voltado à política, uma atividade inerente ao cidadão:
Sair em defesa da política, portanto, não é algo que se
confunda com a defesa dos políticos ou das instituições que nos governam: é, ao
contrário, uma operação destinada a defender a hipótese da vida comunitária.
Corresponde a necessidade vital de manter abertas as comportas de oxigênio,
para que possamos continuar a respirar (NOGUEIRA,
2001, p.13).
Reavaliar a
descrença que está geralmente presente na opinião política brasileira pode ser
um dos meios para evitar direcionar o atrito na direção errada, observando a origem
dessa decepção. A política em si é um terreno fértil para pensarmos nossos
valores, nossos fundamentos éticos, nossa vida em sociedade e o modo como
administraremos esses setores em nossa vida coletiva, influenciando diretamente
a nossa liberdade individual e, em nossas escolhas pessoais.
Essas
necessidades não deixarão de existir ao se desvalorizar a política e
deslegitimar sua urgência. Pelo contrário, sempre estarão presentes em nossa
comunidade. Utilizar a insatisfação relacionada aos representantes como
justificativa para depreciar a política é um meio eficaz de desprezar o
resguardo dos próprios direitos e liberdade. Compreender a importância da
política e introduzi-la como tema relevante em nosso cotidiano está diretamente
relacionada à escolha de representantes. Repensarmos quem somos na política é
também repensar quem está nos representando diretamente. Parafraseando João
Ubaldo Ribeiro (1998, p. 17), quem está no cerne do poder político nada mais é
do que alguém do nosso próprio meio.
A perspectiva
de que todos os políticos são corruptos e ladrões deve se estender até nossa
comunidade. Para refletirmos já que nossos representantes não são seres de
outro mundo. São do mesmo mundo que nós, ou seja, são doutores, cozinheiros,
gerentes, taxistas e professores.
Se não gostamos do comportamento dos políticos e do
funcionamento do sistema e não fazemos nada quanto a isso, estamos sendo
políticos: estamos contribuindo para a perpetuação de uma situação política
indesejável ou inaceitável. Se queremos fazer alguma coisa para melhorar a
situação, também estamos sendo políticos, pois a única via de ação possível,
neste caso, é a Política. (RIBEIRO, 1998, p. 17).
Ao não nos reconhecermos como agentes
políticos, perpetuamos uma atitude de complacência com a corrupção que nos
atormenta como Nação. Cabe ao povo se entender como corpo político, embora não consista
em uma tarefa fácil, principalmente aos mais pobres, que não tendo acesso a
plenas condições de vida e educação, dificilmente se enxergam como parte indispensável
na política do país, não se identificando, não vendo na política o seu lugar.
O cidadão, confuso, entediado com o roteiro e empanturrado
de informações que não consegue decifrar, foge da política. Ou daquilo que
dizem ser política. Os mais pobres permanentemente insatisfeitos com o que têm
e com o que recebem dos governos, do Estado, da comunidade, não encontram
motivos para se interessar pelo jogo político ou para ser leais as instituições
públicas (NOGUEIRA, 2001, p.22).
Se faz
necessário afastar-se de noções enraizadas no senso comum e que dificultam o
diálogo na política. Por isso, é fundamental reconhecer tal necessidade e praticá-la,
levando em consideração que a vida em sociedade exige participação. Afinal,
como entender a importância da cidadania se o próprio indivíduo apresenta uma
postura hostil em relação à política? O reconhecimento da importância da
política envolve a participação do cidadão, que deve de fato entender-se como
cidadão ativo na sociedade, cuja participação vai além do voto sazonal a cada
dois anos.
Entender nosso
papel na busca pela regulação de uma política coesa e que tenha serventia ativa
nos direitos civis e sociais é visualizar nossos deveres e possibilidades de
ação além de meros telespectadores. Consciência é a palavra-chave para o que
estamos tratando. Conscientizarmos que nossa vida privada, individual, se
alinha na consequência da vida social e coletiva. Sobretudo, aqueles que mais
dependem dos serviços públicos, dos programas sociais, governamentais.
A importância
da conscientização política do cidadão deve assumir que não se faz necessário
discutir política apenas quando se há um adversário a combater (CORTELLA, 2010).
A política não existe apenas para contra-atacar ou para nos defender da
corrupção. Precisamos entendê-la como núcleo de nossas decisões de cidadania,
elevarmos o pensar político e nosso dever cívico para implementação de novas
perspectivas e revisão das antigas: “A política seria uma maneira de lançarmos
luz sobre essas teias invisíveis que nos dominam e tentarmos controlá-las (JANINE
apud CORTELLA, 2010, p.9)”.
Devolver a
política seu lugar de honra e virtude que um dia a pertenceu, preservar a
participação política nada mais é do que preservar a vida como um todo. Ainda
que estejamos vivendo tempos individualistas, compreender que a preservação
dessa autonomia e liberdade tão almejadas e conquistadas com muito esforço por
nossos antecessores, está intrinsicamente ligada aos
afazeres cívicos e para manutenção das gerações futuras. Faz-se urgente a
necessidade de uma Nação consciente dos seus problemas e responsabilidades,
tendo plena noção de que todas as suas escolhas são atos políticos; seja de
enfrentamento ou abstenção.
Referências Bibliográficas:
CORTELLA, Mario Sergio; RIBEIRO, Renato
Janine. Política: para não ser idiota, 2016.
NOGUEIRA, Marco Aurélio. Em defesa da política.
São Paulo, 2001.
RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem
manda, porque manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.