Arquivo do blog

terça-feira, 24 de agosto de 2021

A Política com P maiúsculo: a necessidade da conscientização política em nosso cotidiano

 

Foto: Pixabay

Escrito por Thaymara Assis de Lima (discente extensionista de Ciências Sociais)[i]

 

Atualmente abordar sobre política brasileira não é tarefa fácil. Seja despretensiosamente em uma conversa ou em uma cobertura jornalística ou até mesmo quando se analisa e estuda a área cientificamente, como no caso da Ciência Política. De modo geral, pode-se notar como o tema é percebido de forma sensível e às vezes hostil pela população. A política brasileira sofre um desprestígio acarretado pela falta de confiança e pela insatisfação popular em relação à classe política. Dia após dia, observamos o declínio de interesse e motivação na participação civil. No momento em que o Brasil é marcado por crises, a desvalorização política é uma ameaça à vida democrática, pois ao perpetuar-se desprezível, a consequência inevitável é a ignorância com oportunas chances de crescimento no desinteresse do povo pela política.

Essa visão calejada sobre o cenário político brasileiro emaranha-se com a desconfiança nos atores políticos que estão, ou estiveram no poder político do país, transformando o conflito entre povo e representantes em um conflito com a própria política. Marco Aurélio Nogueira, em sua obra Em defesa da política (2001), adverte sobre converter o atrito com os políticos em um horror especificamente voltado à política, uma atividade inerente ao cidadão:

 

Sair em defesa da política, portanto, não é algo que se confunda com a defesa dos políticos ou das instituições que nos governam: é, ao contrário, uma operação destinada a defender a hipótese da vida comunitária. Corresponde a necessidade vital de manter abertas as comportas de oxigênio, para que possamos continuar a respirar  (NOGUEIRA, 2001, p.13).

 

Reavaliar a descrença que está geralmente presente na opinião política brasileira pode ser um dos meios para evitar direcionar o atrito na direção errada, observando a origem dessa decepção. A política em si é um terreno fértil para pensarmos nossos valores, nossos fundamentos éticos, nossa vida em sociedade e o modo como administraremos esses setores em nossa vida coletiva, influenciando diretamente a nossa liberdade individual e, em nossas escolhas pessoais.

Essas necessidades não deixarão de existir ao se desvalorizar a política e deslegitimar sua urgência. Pelo contrário, sempre estarão presentes em nossa comunidade. Utilizar a insatisfação relacionada aos representantes como justificativa para depreciar a política é um meio eficaz de desprezar o resguardo dos próprios direitos e liberdade. Compreender a importância da política e introduzi-la como tema relevante em nosso cotidiano está diretamente relacionada à escolha de representantes. Repensarmos quem somos na política é também repensar quem está nos representando diretamente. Parafraseando João Ubaldo Ribeiro (1998, p. 17), quem está no cerne do poder político nada mais é do que alguém do nosso próprio meio.

A perspectiva de que todos os políticos são corruptos e ladrões deve se estender até nossa comunidade. Para refletirmos já que nossos representantes não são seres de outro mundo. São do mesmo mundo que nós, ou seja, são doutores, cozinheiros, gerentes, taxistas e professores.

 

Se não gostamos do comportamento dos políticos e do funcionamento do sistema e não fazemos nada quanto a isso, estamos sendo políticos: estamos contribuindo para a perpetuação de uma situação política indesejável ou inaceitável. Se queremos fazer alguma coisa para melhorar a situação, também estamos sendo políticos, pois a única via de ação possível, neste caso, é a Política. (RIBEIRO, 1998, p. 17).

 

 Ao não nos reconhecermos como agentes políticos, perpetuamos uma atitude de complacência com a corrupção que nos atormenta como Nação. Cabe ao povo se entender como corpo político, embora não consista em uma tarefa fácil, principalmente aos mais pobres, que não tendo acesso a plenas condições de vida e educação, dificilmente se enxergam como parte indispensável na política do país, não se identificando, não vendo na política o seu lugar.

 

O cidadão, confuso, entediado com o roteiro e empanturrado de informações que não consegue decifrar, foge da política. Ou daquilo que dizem ser política. Os mais pobres permanentemente insatisfeitos com o que têm e com o que recebem dos governos, do Estado, da comunidade, não encontram motivos para se interessar pelo jogo político ou para ser leais as instituições públicas (NOGUEIRA, 2001, p.22).

 

Se faz necessário afastar-se de noções enraizadas no senso comum e que dificultam o diálogo na política. Por isso, é fundamental reconhecer tal necessidade e praticá-la, levando em consideração que a vida em sociedade exige participação. Afinal, como entender a importância da cidadania se o próprio indivíduo apresenta uma postura hostil em relação à política? O reconhecimento da importância da política envolve a participação do cidadão, que deve de fato entender-se como cidadão ativo na sociedade, cuja participação vai além do voto sazonal a cada dois anos.

Entender nosso papel na busca pela regulação de uma política coesa e que tenha serventia ativa nos direitos civis e sociais é visualizar nossos deveres e possibilidades de ação além de meros telespectadores. Consciência é a palavra-chave para o que estamos tratando. Conscientizarmos que nossa vida privada, individual, se alinha na consequência da vida social e coletiva. Sobretudo, aqueles que mais dependem dos serviços públicos, dos programas sociais, governamentais.

A importância da conscientização política do cidadão deve assumir que não se faz necessário discutir política apenas quando se há um adversário a combater (CORTELLA, 2010). A política não existe apenas para contra-atacar ou para nos defender da corrupção. Precisamos entendê-la como núcleo de nossas decisões de cidadania, elevarmos o pensar político e nosso dever cívico para implementação de novas perspectivas e revisão das antigas: “A política seria uma maneira de lançarmos luz sobre essas teias invisíveis que nos dominam e tentarmos controlá-las (JANINE apud CORTELLA, 2010, p.9)”.

Devolver a política seu lugar de honra e virtude que um dia a pertenceu, preservar a participação política nada mais é do que preservar a vida como um todo. Ainda que estejamos vivendo tempos individualistas, compreender que a preservação dessa autonomia e liberdade tão almejadas e conquistadas com muito esforço por nossos antecessores, está intrinsicamente ligada aos afazeres cívicos e para manutenção das gerações futuras. Faz-se urgente a necessidade de uma Nação consciente dos seus problemas e responsabilidades, tendo plena noção de que todas as suas escolhas são atos políticos; seja de enfrentamento ou abstenção.

 

Referências Bibliográficas:

CORTELLA, Mario Sergio; RIBEIRO, Renato Janine. Política: para não ser idiota, 2016.

NOGUEIRA, Marco Aurélio. Em defesa da política. São Paulo, 2001.

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, porque manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

 



[i] Artigo supervisionado pelos professores Ricardo Bruno Ferreira (UFF) e Mariele Troiano (UFF).

Nenhum comentário:

Postar um comentário