Foto:
Acervo pessoal da professora Raquel Brum
Entrevistada: Profª Drª Raquel Brum Fernandes
da Silveira[i]
Thaymara Assis: Professora, qual é a sua principal memória na UFF Campos?
Raquel Brum: Estou na UFF Campos desde 2016, então nesses sete anos tenho alguns
momentos, bastante memórias e experiências que me marcaram. Uma delas foi a
Semana de Ciências Sociais, em 2019. Estávamos comemorando 10 anos de curso, eu
era coordenadora da licenciatura na época e membro da comissão organizadora.
Foi um evento muito trabalhoso, como sempre é, principalmente por ser um evento
de vários dias. Então me lembro que ficamos muito tempo pensando a programação
e fazendo certificados para professores e alunos. Mas foi muito legal, tivemos
muitas mesas e atividades interessantes. Participei da mesa que falou sobre o
surgimento do curso e tivemos professores que estavam no início de tudo e
contaram toda a história do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI) e do surgimento desses novos cursos
da UFF Campos. Os grupos de pesquisa se apresentaram e mediei uma mesa sobre o
que os professores do COC estavam pesquisando naquele momento. Cada um falou
sobre seus livros e temas de trabalho. A Semana de Ciências Sociais de 2021
também foi marcante, mas por ser remota não tivemos contato com o campus.
Thaymara Assis: Qual foi o impacto da UFF Campos em sua trajetória profissional?
Raquel Brum: Quando entrei na UFF Campos, havia terminado o doutorado há dois meses
apenas. Até então, eu já tinha tido uma experiência de professora substituta na
Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) durante o doutorado e
o resto da minha experiência foi na educação básica pública, federal e
particular bastante variada. Quando passei no concurso para Campos, eu não
sabia muito como ia ser essa experiência da dedicação exclusiva, pois quando
era substituta na UERJ, eu trabalhava em vários outros lugares ao mesmo tempo,
cheguei a dar aula em 5 lugares diferentes ao mesmo tempo. Como era bem
segmentado, não tinha como fazer pesquisa, não fazia extensão, era focado
apenas em dar aulas. Então quando cheguei na UFF Campos, foi a primeira vez que
eu tinha um emprego só. Era efetivamente uma dedicação exclusiva. Com isso,
consegui organizar melhor os meus interesses de pesquisa e de ensino como, por
exemplo, ministrar aulas optativas, e tentar combinar tudo isso, de modo que eu
conseguisse caminhar em direção aos meus objetivos de pesquisa na área. Então,
na UFF Campos foi onde eu consegui desenvolver com mais liberdade meus
interesses.
A primeira pesquisa que iniciei foi a sequência
da minha tese de doutorado defendida no Rio de Janeiro, sobre projetos sociais
para juventudes periféricas. Trouxe para Campos exatamente para iniciar um
mapeamento na cidade, sobretudo de projetos sociais que trabalhassem com
juventudes de regiões periféricas. Essa pesquisa durou de 2016 até 2019, quando
iniciou a pandemia, encerrei-a temporariamente, pois já temos algumas
publicações e um bom mapeamento da questão. Passaram vários estudantes nesse
projeto e consegui desenvolver e pensar da minha forma com mais liberdade sobre
o que me interessava. Já estou no terceiro projeto de pesquisa na UFF e fui
seguindo dessa maneira mais livre.
Continuo até hoje participando dos grupos de pesquisa na UERJ e Colégio
Pedro II, grupos esses, que eu já participava antes de entrar na UFF, mas são
grupos coletivos, onde eu não sou a mentora e coordenadora. Poder fazer
pesquisa do meu jeito, em que alunos contribuem com seus saberes e, juntos,
traçarmos as direções com mais liberdade, é algo que a UFF me proporciona e me
marca muito.
Hoje, 7 anos depois, eu já entendo melhor o
ritmo dos alunos e o que funciona melhor dependendo das limitações do nosso campus. A pouca possibilidade de espaço
que temos, nos faz alternar as salas uns com os outros. Já fiz muitas reuniões
de pesquisa em cafeterias da cidade. No próprio campo, por exemplo, lembro de
um projeto de pesquisa que fizemos, que assim que terminamos, saímos da
entrevista e fomos para um local próximo no próprio campo, devido à falta de
disponibilidade do pequeno número de salas do nosso campus. Hoje eu sei bem como isso funciona e já sei que nem sempre
posso contar com as salas e com o espaço físico da UFF. Mas sei que existe nos
alunos um interesse de participação muito significativo e isso é uma das coisas
que mais me impactaram em minhas pesquisas. Essa falta de estrutura física e ao
mesmo tempo um enorme interesse dos alunos que nunca faltam nos grupos de
pesquisa.
Thaymara Assis: Poderia nos contar algum fato curioso que você vivenciou na UFF
Campos?
Raquel Brum: Uma experiência pessoal que acho interessante, é que na coordenação
lidamos muito com questões que não estamos preparados. Algumas situações que
chegam são curiosas. A faixa etária da maioria dos alunos é jovem, e sofre a
influência do limbo que é a transição da adolescência para a vida adulta, onde
se inicia o processo de autossuficiência e independência, e a família às vezes
não sabe até que ponto interfere. Uma vez um grupo de alunos foi até à
coordenação realizar um trabalho de campo para uma determinada disciplina e a
atividade acabou levando muito mais tempo do que estava programado. Com isso,
acabamos recebendo algumas ligações de pais de alunos perguntando sobre eles.
Mas teve uma mãe em específico que veio até nós exigindo informações sobre o
paradeiro da filha dela. Esse fato foi curioso porque não fazíamos a menor
ideia de onde estava essa aluna. A mãe foi categórica em achar que tínhamos que
saber onde estava sua filha por sermos a coordenação do curso, mas isso tem
relação com a perspectiva de escola que alguns carregam. Em uma universidade
tudo é diferente, não temos controle sobre os alunos. Até descobrirmos onde
estava a aluna, por meio de quadros de horários, cruzando as informações que
recebíamos de outros pais que estavam entrando em contato também, houve muita
insatisfação dessa mãe que acreditava que tínhamos que garantir o paradeiro de
sua filha. Nós não trabalhamos com esse hábito justamente por trabalharmos em
uma universidade que é frequentada por adultos, independentemente se eles estão
iniciando sua vida adulta agora ou não. E é uma situação bem imprecisa, pois
até que ponto temos o direito de passar informações de alguém que é maior de
idade para a família? É uma situação com muitas nuances. Essa experiência de
como administrar a família me marcou muito. Eu nunca imaginei que teria que
lidar com esse elemento surpresa.
[i] Raquel Brum Fernandes é Bacharel e Licenciada em Ciências
Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008). É Mestre (2010) e
Doutora (2015) pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Uerj. É
professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal
Fluminense em Campos dos Goytacazes e atua como coordenadora do curso de
Licenciatura em Ciências Sociais. É coordenadora de núcleo do Programa
Residência Pedagógica e líder do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Ciências
Sociais (Lapecs) da UFF Campos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário