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terça-feira, 28 de novembro de 2023

Diálogos em memórias com Raquel Brum

 

Foto: Acervo pessoal da professora Raquel Brum

Entrevistada: Profª Drª Raquel Brum Fernandes da Silveira[i]

Thaymara Assis: Professora, qual é a sua principal memória na UFF Campos?

Raquel Brum: Estou na UFF Campos desde 2016, então nesses sete anos tenho alguns momentos, bastante memórias e experiências que me marcaram. Uma delas foi a Semana de Ciências Sociais, em 2019. Estávamos comemorando 10 anos de curso, eu era coordenadora da licenciatura na época e membro da comissão organizadora. Foi um evento muito trabalhoso, como sempre é, principalmente por ser um evento de vários dias. Então me lembro que ficamos muito tempo pensando a programação e fazendo certificados para professores e alunos. Mas foi muito legal, tivemos muitas mesas e atividades interessantes. Participei da mesa que falou sobre o surgimento do curso e tivemos professores que estavam no início de tudo e contaram toda a história do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e do surgimento desses novos cursos da UFF Campos. Os grupos de pesquisa se apresentaram e mediei uma mesa sobre o que os professores do COC estavam pesquisando naquele momento. Cada um falou sobre seus livros e temas de trabalho. A Semana de Ciências Sociais de 2021 também foi marcante, mas por ser remota não tivemos contato com o campus.

Thaymara Assis: Qual foi o impacto da UFF Campos em sua trajetória profissional?

Raquel Brum: Quando entrei na UFF Campos, havia terminado o doutorado há dois meses apenas. Até então, eu já tinha tido uma experiência de professora substituta na Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) durante o doutorado e o resto da minha experiência foi na educação básica pública, federal e particular bastante variada. Quando passei no concurso para Campos, eu não sabia muito como ia ser essa experiência da dedicação exclusiva, pois quando era substituta na UERJ, eu trabalhava em vários outros lugares ao mesmo tempo, cheguei a dar aula em 5 lugares diferentes ao mesmo tempo. Como era bem segmentado, não tinha como fazer pesquisa, não fazia extensão, era focado apenas em dar aulas. Então quando cheguei na UFF Campos, foi a primeira vez que eu tinha um emprego só. Era efetivamente uma dedicação exclusiva. Com isso, consegui organizar melhor os meus interesses de pesquisa e de ensino como, por exemplo, ministrar aulas optativas, e tentar combinar tudo isso, de modo que eu conseguisse caminhar em direção aos meus objetivos de pesquisa na área. Então, na UFF Campos foi onde eu consegui desenvolver com mais liberdade meus interesses.

A primeira pesquisa que iniciei foi a sequência da minha tese de doutorado defendida no Rio de Janeiro, sobre projetos sociais para juventudes periféricas. Trouxe para Campos exatamente para iniciar um mapeamento na cidade, sobretudo de projetos sociais que trabalhassem com juventudes de regiões periféricas. Essa pesquisa durou de 2016 até 2019, quando iniciou a pandemia, encerrei-a temporariamente, pois já temos algumas publicações e um bom mapeamento da questão. Passaram vários estudantes nesse projeto e consegui desenvolver e pensar da minha forma com mais liberdade sobre o que me interessava. Já estou no terceiro projeto de pesquisa na UFF e fui seguindo dessa maneira mais livre.  Continuo até hoje participando dos grupos de pesquisa na UERJ e Colégio Pedro II, grupos esses, que eu já participava antes de entrar na UFF, mas são grupos coletivos, onde eu não sou a mentora e coordenadora. Poder fazer pesquisa do meu jeito, em que alunos contribuem com seus saberes e, juntos, traçarmos as direções com mais liberdade, é algo que a UFF me proporciona e me marca muito.

Hoje, 7 anos depois, eu já entendo melhor o ritmo dos alunos e o que funciona melhor dependendo das limitações do nosso campus. A pouca possibilidade de espaço que temos, nos faz alternar as salas uns com os outros. Já fiz muitas reuniões de pesquisa em cafeterias da cidade. No próprio campo, por exemplo, lembro de um projeto de pesquisa que fizemos, que assim que terminamos, saímos da entrevista e fomos para um local próximo no próprio campo, devido à falta de disponibilidade do pequeno número de salas do nosso campus. Hoje eu sei bem como isso funciona e já sei que nem sempre posso contar com as salas e com o espaço físico da UFF. Mas sei que existe nos alunos um interesse de participação muito significativo e isso é uma das coisas que mais me impactaram em minhas pesquisas. Essa falta de estrutura física e ao mesmo tempo um enorme interesse dos alunos que nunca faltam nos grupos de pesquisa.

Thaymara Assis: Poderia nos contar algum fato curioso que você vivenciou na UFF Campos?

Raquel Brum: Uma experiência pessoal que acho interessante, é que na coordenação lidamos muito com questões que não estamos preparados. Algumas situações que chegam são curiosas. A faixa etária da maioria dos alunos é jovem, e sofre a influência do limbo que é a transição da adolescência para a vida adulta, onde se inicia o processo de autossuficiência e independência, e a família às vezes não sabe até que ponto interfere. Uma vez um grupo de alunos foi até à coordenação realizar um trabalho de campo para uma determinada disciplina e a atividade acabou levando muito mais tempo do que estava programado. Com isso, acabamos recebendo algumas ligações de pais de alunos perguntando sobre eles. Mas teve uma mãe em específico que veio até nós exigindo informações sobre o paradeiro da filha dela. Esse fato foi curioso porque não fazíamos a menor ideia de onde estava essa aluna. A mãe foi categórica em achar que tínhamos que saber onde estava sua filha por sermos a coordenação do curso, mas isso tem relação com a perspectiva de escola que alguns carregam. Em uma universidade tudo é diferente, não temos controle sobre os alunos. Até descobrirmos onde estava a aluna, por meio de quadros de horários, cruzando as informações que recebíamos de outros pais que estavam entrando em contato também, houve muita insatisfação dessa mãe que acreditava que tínhamos que garantir o paradeiro de sua filha. Nós não trabalhamos com esse hábito justamente por trabalharmos em uma universidade que é frequentada por adultos, independentemente se eles estão iniciando sua vida adulta agora ou não. E é uma situação bem imprecisa, pois até que ponto temos o direito de passar informações de alguém que é maior de idade para a família? É uma situação com muitas nuances. Essa experiência de como administrar a família me marcou muito. Eu nunca imaginei que teria que lidar com esse elemento surpresa.



[i] Raquel Brum Fernandes é Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008). É Mestre (2010) e Doutora (2015) pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Uerj. É professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes e atua como coordenadora do curso de Licenciatura em Ciências Sociais. É coordenadora de núcleo do Programa Residência Pedagógica e líder do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais (Lapecs) da UFF Campos.

 


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