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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Diálogos em memórias com Paulo Gajanigo

 Entrevistado: Prof. Dr. Paulo Rodrigues Gajanigo[i]

Thaymara Assis: Professor, a primeira pergunta que eu gostaria de fazer, é sobre sua principal  memória da UFF Campos. Quando você pensa em UFF Campos, o que vem em sua lembrança?

Paulo Gajanigo: Quando você fez o convite, eu até roubei um pouquinho de informação da  Mariele, pedindo um briefing do que se tratava e ela me disse que tinha a ver com  memória, e eu pensei: "Caramba! Sobre memória, que difícil!" A primeira memória que tenho daqui é que eu encontrei um espaço extremamente intenso e onde os alunos se sentiam muito à vontade. Essa é a minha impressão. As memórias mais vivas que eu tenho são das iniciativas em que eu estive envolvido, que eram lideradas e impulsionadas pelos  estudantes e isso foi uma experiência nova na universidade para mim. Eu e o professor Augusto fizemos um projeto de extensão, em 2013, somando nossos interesses em estudar redemocratização. Lembro que logo o projeto foi inundado por alunos e tomado por eles. Tivemos que mudar todo o rumo dele porque percebi que eles tinham a necessidade de ter um espaço para se expressar artisticamente. Então, quando penso em UFF Campos, imagino esse espaço em que os alunos construíram a partir de vivências, como as mostras de artes que fizemos. Isso torna o campus muito rabiscável. Essas são memórias que me vêm à cabeça, não é de um fato específico. Aqui eu tenho essa sensação de vila. Me sinto como em uma praça, onde a gente está sempre no centro do campus, na cantina, por exemplo, e as interações são estabelecidas de forma ampla, de modo que os cursos não se dividem tanto. Recentemente, eu fui visitar a obra do novo prédio e pensei onde ficaríamos, pois não tem nenhum pilotis para ficarmos embaixo, ou ficamos dentro do prédio ou no lado de fora no sol. Acho que com o tempo vamos ter que obrigatoriamente inventar esse espaço. Esse foi o maior estranhamento quanto a esse espaço que ainda é a UFF  Campos, ainda que seja uma arquitetura meio que enlatada, ela é amigável.

Thaymara Assis: Como a UFF Campos refletiu na sua trajetória profissional? Como você  enxerga esse desenvolvimento profissional baseado nas suas experiências vividas dentro  da UFF Campos?

Paulo Gajanigo: Vou dramatizar um pouco, mas acho que a minha trajetória acadêmica  renasceu aqui na UFF Campos. Eu trago muita pouca coisa do doutorado em relação ao  que faço hoje. Entrei aqui em 2012, logo depois de ter defendido o doutorado, uns dois ou três meses depois. E eu queria entrar aqui de cabeça, sem ficar pensando para onde eu iria em relação à linha de pesquisa, eu queria fazer um monte de coisas que eu nunca tinha feito na minha vida. Eu tinha uma experiência razoável de quatro ou cinco anos dando aula, mas tem muita coisa além de dar aula na função de docente, então me dediquei a isso e estava muito aberto a ouvir os alunos. A gente foi construindo coisas que eu não imaginava. 

Hoje pesquiso abertura política no país e isso surgiu a partir de um projeto de extensão que foi construído basicamente em conjunto com esses alunos e com as iniciativas deles. A arte não era algo com que eu trabalhava até eles proporem isso e, então, trabalhamos a abertura política com arte e hoje isso reflete de certa forma no meu trabalho e sua temática. O giro que dei na minha carreira com relação ao interesse de pesquisa, de gostar de equipes, de pessoas e trabalhar junto, só tive aqui. Então a UFF Campos é 80% do que é a minha carreira acadêmica hoje, a marca dela. A temática eu desenvolvi aqui através de muitos diálogos com os estudantes e com a coletividade que eu não tinha, até porque a carreira acadêmica, em geral, é muito solitária. O doutorado e o mestrado são solitários. Você passa muito tempo sozinho sentado com a sua cabeça. Sei que tem experiências mais coletivas, mas, particularmente, nunca fiz parte de grupos ativos de pesquisa por longos períodos, então minha trajetória foi mais solitária  até a UFF Campos e isso me marcou bastante. E hoje identifico no que eu faço muito mais o que desenvolvi aqui na UFF Campos, do que carrego do mestrado, do meu doutorado ou da minha graduação. Eu fui professor substituto por um ano na UFF Niterói em 2011, durante meu último ano no doutorado. Essa foi minha primeira experiência na UFF, só que em Niterói. Minha  graduação e mestrado foram na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Todas essas experiências foram muito diferentes umas das outras e tenho um carinho enorme por elas. Aqui na UFF Campos encontrei um ambiente acolhedor, apesar das dificuldades.

Thaymara Assis: Professor, poderia nos contar sobre algum fato curioso que você tenha  presenciado nesse espaço da UFF Campos?

Paulo Gajanigo: É uma bobagem de corredor, mas foi muito divertido. Aqui todo mundo vê e todo mundo especula muito. Eu tinha um colega que não trabalha mais no departamento e estávamos fazendo apuração de votos das eleições de alguma coisa, não lembro se era para a coordenação ou chefia. As eleições se encerraram às 22h da noite e fomos fazer a contagem dos votos em uma salinha das Ciências Sociais. Às 23h30 saímos daquela sala acabados, descabelados e suados. Só sei que correu um boato sobre nós dois naquele dia, boato esse que nunca negamos nem falamos nada sobre, porque boato bom é assim. Quando descobrimos que esse boato era forte, tinha gente que dizia com muita certeza, que tinha informações que éramos um casal. Nunca desmentimos porque o boato era mais legal que a realidade.



[i] Professor Associado de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF, e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da UFF. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2003), mestrado em Antropologia Social também pela Unicamp (2006) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2012). Realizou estágio pós-doutoral na Media Film and Music School na University of Sussex (2019). Tem experiência na área de Teoria Social e Estudos Culturais, atuando, principalmente, nos seguintes temas: Identidade, Cultura, Democracia e Classe.

 

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