Entrevistado: Prof. Dr. Paulo Rodrigues Gajanigo[i]
Thaymara Assis: Professor, a primeira
pergunta que eu gostaria de fazer, é sobre sua principal memória da UFF Campos. Quando você pensa em
UFF Campos, o que vem em sua lembrança?
Paulo Gajanigo: Quando você fez o convite, eu até roubei um
pouquinho de informação da Mariele,
pedindo um briefing do que se tratava e ela me disse que tinha a ver
com memória, e eu pensei: "Caramba! Sobre memória, que difícil!" A primeira memória que tenho daqui é que eu encontrei um
espaço extremamente intenso e onde os alunos se sentiam muito à vontade.
Essa é a minha impressão. As memórias mais vivas que
eu tenho são das iniciativas em que eu estive envolvido, que eram lideradas e
impulsionadas pelos estudantes e isso
foi uma experiência nova na universidade para mim. Eu e o professor Augusto fizemos
um projeto de extensão, em 2013, somando nossos interesses
em estudar redemocratização. Lembro que logo o projeto foi inundado por alunos e tomado
por eles. Tivemos que mudar todo o rumo dele
porque percebi que eles tinham a necessidade de ter um espaço para se expressar
artisticamente. Então, quando penso em UFF
Campos, imagino esse espaço em que os alunos
construíram a partir de vivências, como as
mostras de artes que fizemos. Isso torna o campus muito
rabiscável. Essas são memórias que me vêm à
cabeça, não é de um fato específico. Aqui eu
tenho essa sensação de vila. Me sinto como em uma praça, onde a gente está
sempre no centro do campus, na cantina, por
exemplo, e as interações são estabelecidas de forma ampla, de modo que os cursos não se dividem tanto. Recentemente,
eu fui visitar a obra do novo prédio e pensei onde ficaríamos,
pois não tem nenhum pilotis para ficarmos
embaixo, ou ficamos dentro do prédio ou no
lado de fora no sol. Acho que com o tempo vamos ter que obrigatoriamente
inventar esse espaço. Esse foi o maior estranhamento quanto a esse espaço que
ainda é a UFF Campos, ainda que seja uma
arquitetura meio que enlatada, ela é amigável.
Thaymara Assis: Como a UFF Campos refletiu na sua trajetória profissional? Como
você enxerga esse desenvolvimento
profissional baseado nas suas experiências vividas dentro da UFF Campos?
Paulo Gajanigo: Vou dramatizar um pouco, mas acho que a minha trajetória
acadêmica renasceu aqui na UFF Campos.
Eu trago muita pouca coisa do doutorado em relação ao que faço hoje. Entrei aqui em 2012, logo
depois de ter defendido o doutorado, uns dois ou três meses depois. E eu queria entrar aqui de cabeça, sem ficar
pensando para onde eu iria em relação à linha de pesquisa, eu queria fazer um
monte de coisas que eu nunca tinha feito na minha vida. Eu tinha uma
experiência razoável de quatro ou cinco anos
dando aula, mas tem muita coisa além de dar aula na função de docente, então me
dediquei a isso e estava muito aberto a ouvir os alunos. A gente foi construindo coisas que eu não imaginava.
Hoje pesquiso abertura política no país e isso surgiu a partir de
um projeto de extensão que foi construído basicamente em conjunto com esses
alunos e com as iniciativas deles. A
arte não era algo com que eu trabalhava até eles proporem isso e, então,
trabalhamos a abertura política com arte e hoje isso reflete de certa forma no
meu trabalho e sua temática. O giro que dei na minha carreira com relação ao
interesse de pesquisa, de gostar de equipes, de pessoas e trabalhar junto, só
tive aqui. Então a UFF Campos é 80% do que é a minha carreira acadêmica hoje, a
marca dela. A temática eu desenvolvi aqui através de muitos diálogos com os
estudantes e com a coletividade que eu não tinha, até porque a carreira
acadêmica, em geral, é muito solitária. O
doutorado e o mestrado são solitários.
Você passa muito tempo sozinho sentado com a sua
cabeça. Sei que tem experiências mais coletivas, mas, particularmente, nunca
fiz parte de grupos ativos de pesquisa por longos períodos, então minha
trajetória foi mais solitária até a UFF
Campos e isso me marcou bastante. E hoje identifico no que eu faço muito mais o
que desenvolvi aqui na UFF Campos, do que carrego do mestrado, do meu doutorado
ou da minha graduação. Eu fui professor substituto por um ano na UFF Niterói em 2011, durante meu último ano no
doutorado. Essa foi minha primeira experiência
na UFF, só que em Niterói. Minha
graduação e mestrado foram na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) e doutorado na Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). Todas essas experiências foram muito diferentes umas das outras
e tenho um carinho enorme por elas. Aqui na UFF
Campos encontrei um ambiente acolhedor, apesar das dificuldades.
Thaymara Assis: Professor, poderia nos contar sobre algum fato curioso
que você tenha presenciado nesse espaço da UFF Campos?
Paulo Gajanigo: É uma bobagem de corredor, mas foi muito divertido. Aqui todo
mundo vê e todo mundo
especula muito. Eu
tinha um colega que não trabalha mais no departamento e estávamos fazendo
apuração de votos das eleições de alguma coisa, não lembro se era para a
coordenação ou chefia. As eleições se
encerraram às 22h da noite e fomos fazer a contagem dos votos em uma salinha
das Ciências Sociais. Às 23h30 saímos daquela
sala acabados, descabelados e suados. Só sei que correu um boato sobre nós dois
naquele dia, boato esse que nunca negamos nem falamos nada sobre, porque boato
bom é assim. Quando descobrimos que esse boato
era forte, tinha gente que dizia com muita certeza, que tinha informações que
éramos um casal. Nunca desmentimos porque o boato era mais legal que a
realidade.
[i] Professor Associado de Sociologia do Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense, professor permanente do
Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF, e professor
colaborador do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da UFF.
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas
(2003), mestrado em Antropologia Social também pela Unicamp (2006) e doutorado
em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2012). Realizou
estágio pós-doutoral na Media Film and Music School na University of Sussex
(2019). Tem experiência na área de Teoria Social e Estudos Culturais, atuando,
principalmente, nos seguintes temas: Identidade, Cultura, Democracia e Classe.
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