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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Diálogos em Memórias com Érica Tavares da Silva Rocha

 Entrevistada: Profª Drª Érica Tavares da Silva Rocha



Thaymara de Assis: A primeira pergunta que eu gostaria de fazer, é sobre sua principal memória da UFF Campos? Quando você pensa na UFF Campos, qual é a sua maior lembrança? Em seguida, gostaria que falasse sobre seu desenvolvimento profissional baseado nas suas experiências vividas dentro da UFF Campos. É possível fazer essa relação direta?

 

Érica Tavares: Minha principal memória, levando em consideração o que mais me marcou, foi a entrada na universidade como professora. Isso com certeza deixa marcas significativas em nossa trajetória. Entrei na UFF Campos em 2013 em um contexto em que vários outros colegas também estavam entrando, alguns antes e outros logo após minha chegada. Foi um momento de consolidação do curso de Ciências Sociais na instituição de Campos, e foi um momento pessoal e institucionalmente marcante, que trouxe muitos desafios no sentido de entender o mundo universitário na área da docência. A gente vem de uma trajetória acadêmica: trabalhamos muito com pesquisa na graduação, no mestrado e no doutorado. Eu pelo menos me inseri em projetos de pesquisa durante toda a minha vida acadêmica e esse papel de docente em universidade pública se inicia apenas quando entro na UFF de Campos, apesar de já ter trabalhado como professora na rede privada anteriormente. 

Nesse aspecto, nos deparamos não apenas com a questão do ensino, mas da gestão, da pesquisa e extensão, das defesas dentro do meio universitário que transpassam o papel do professor. Principalmente na questão da gestão, que é desafiadora. Após dar aula no ensino privado e em seguida entrar na universidade pública, pude acompanhar a diferença no envolvimento dos estudantes, o engajamento nas pesquisas e o desejo de alcançar uma trajetória acadêmica. Acho que isso é o mais marcante da minha experiência aqui na UFF Campos. 

Por outro lado, temos uma distinção em termos de gestão da própria instituição.  Enquanto aqui na universidade pública, nós temos mais autonomia, também temos bem mais compromissos e temos que lidar com dilemas. No ensino privado, as decisões vêm mais de cima e a nossa função se resume a executar essas decisões e não em desenvolvê-las e ter plena responsabilidade sobre elas. A parte de criar, gerir e pensar se torna muito mais desafiadora quando estamos em uma universidade pública, mas também temos muito a ganhar com essa possibilidade de conduzir nossas relações e experiências. 

Faço 10 anos de UFF Campos e com isso vou traçando a minha trajetória, questionando o equilíbrio entre estar em uma gestão e em sala de aula, orientar uma pesquisa e conduzir um projeto. Isso é algo que leva muito do seu tempo e foco. Então, vou criando esse mecanismo de inserção para contribuirmos em todas as instâncias da universidade. Isso é bastante desafiador! Acho que nós só temos noção quando entramos como professor na universidade pública porque o primeiro vislumbre da profissão é pautado no que víamos como alunos, ou seja, o que os nossos professores faziam. Essa parte da gestão e das relações institucionais são necessárias para que a universidade sobreviva. Só temos noção quando entramos como docentes. Não conseguimos nos desvencilhar desse papel mesmo quando fora desse espaço. A pandemia acabou deixando muito claro como vamos criando estratégias para ensinar e fazer pesquisa dentro das diferentes situações. São diversos papéis que muitas vezes não são facilmente visíveis e que ultrapassam a sala de aula.

Acho que a UFF Campos tem uma peculiaridade muito interessante, pelo menos durante a minha trajetória, de ser um campus exclusivo de Ciências Humanas. É um espaço que reúne colegas, docentes e discentes interessados nesse grande campo de conhecimento. Acredito que isso potencializa muitas iniciativas de reflexão e proposição sobre a realidade, principalmente, na região do norte fluminense. Minha trajetória já tem um caráter interdisciplinar dentro desse grande campo e a minha inserção aqui se deu muito por meio dessa perspectiva. Tenho pesquisas com colegas dos cursos de Economia, Geografia e Serviço Social. Produzimos pesquisas e atividades de extensão que dialogam com as várias áreas da Ciências Sociais Aplicadas. Meu ingresso como professora da pós-graduação também ajudou nesse aspecto. Tenho colegas de variadas áreas que fazem parte desse meio junto comigo e essa interação é muito boa, pois vemos a interdisciplinaridade acontecendo. O que acho mais interessante é que quando temos uma questão ou um ponto de reflexão, temos acesso a essas áreas e permitimos que elas contribuam nos dando diferentes olhares e diferentes respostas que geralmente se complementam na compreensão de determinada realidade e objeto. Por exemplo, em um projeto interdisciplinar que desenvolvemos sobre as inundações na região, pude aprender muito com  colegas do Serviço Social e suas análises sobre as políticas públicas e com colegas da Geografia a respeito da paisagem desses territórios. Assim, é possível uma interpretação mais ampla sobre questões da história e da natureza na formação daquele espaço. Essas contribuições são fantásticas!

Em relação à organização da UFF, que tem a sede em Niterói e alguns institutos espalhados pelo estado do Rio de Janeiro, muitas decisões que temos que tomar dependem de nos reportarmos a Niterói e solicitarmos uma orientação. Geralmente, as orientações que recebemos se resumem a “ter que falar com Niterói”, “ligar para Niterói”, “mandar e-mail para Niterói”. Quando estive na coordenação de curso de graduação, me perguntava sempre que ouvia isso: “Quem é Niterói?”, chegava a ser engraçado, para não dizer trágico, pois dependendo da sua dúvida, há específicos setores e funcionários para contactar e até descobrir exatamente com quem falar era um pouco tenso. Não há um único caminho em Niterói para a resolução dos problemas!

Essas questões institucionais reverberam até os dias de hoje. Me pego questionando a possível mudança para o novo prédio da UFF Campos, mais amplo e dividido. Espero não reproduzirmos esse distanciamento, afinal, as relações são mais próximas aqui. Espero que, no novo campus, possamos identificar esses caminhos para as relações institucionais com mais leveza e facilidade.

 



 

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