Entrevistada: Profª Drª Érica Tavares da Silva Rocha
Thaymara de Assis: A primeira pergunta que eu gostaria de fazer, é sobre sua principal memória da UFF Campos? Quando você pensa na UFF Campos, qual é a sua maior lembrança? Em seguida, gostaria que falasse sobre seu desenvolvimento profissional baseado nas suas experiências vividas dentro da UFF Campos. É possível fazer essa relação direta?
Érica Tavares: Minha principal memória, levando em consideração
o que mais me marcou, foi a entrada na universidade como professora. Isso com
certeza deixa marcas significativas em nossa trajetória. Entrei na UFF Campos
em 2013 em um contexto em que vários outros colegas também estavam entrando,
alguns antes e outros logo após minha chegada. Foi um momento de consolidação
do curso de Ciências Sociais na instituição de Campos, e foi um momento pessoal
e institucionalmente marcante, que trouxe muitos desafios no sentido de
entender o mundo universitário na área da docência. A gente vem de uma
trajetória acadêmica: trabalhamos muito com pesquisa na graduação, no mestrado
e no doutorado. Eu pelo menos me inseri em projetos de pesquisa durante toda a
minha vida acadêmica e esse papel de docente em universidade pública se inicia
apenas quando entro na UFF de Campos, apesar de já ter trabalhado como
professora na rede privada anteriormente.
Nesse aspecto, nos deparamos não
apenas com a questão do ensino, mas da gestão, da pesquisa e extensão, das
defesas dentro do meio universitário que transpassam o papel do professor.
Principalmente na questão da gestão, que é desafiadora. Após dar aula no ensino
privado e em seguida entrar na universidade pública, pude acompanhar a
diferença no envolvimento dos estudantes, o engajamento nas pesquisas e o
desejo de alcançar uma trajetória acadêmica. Acho que isso é o mais marcante da
minha experiência aqui na UFF Campos.
Por outro lado, temos uma
distinção em termos de gestão da própria instituição. Enquanto aqui na
universidade pública, nós temos mais autonomia, também temos bem mais
compromissos e temos que lidar com dilemas. No ensino privado, as decisões vêm
mais de cima e a nossa função se resume a executar essas decisões e não em
desenvolvê-las e ter plena responsabilidade sobre elas. A parte de criar, gerir
e pensar se torna muito mais desafiadora quando estamos em uma universidade
pública, mas também temos muito a ganhar com essa possibilidade de conduzir
nossas relações e experiências.
Faço 10 anos de UFF Campos e com
isso vou traçando a minha trajetória, questionando o equilíbrio entre estar em
uma gestão e em sala de aula, orientar uma pesquisa e conduzir um projeto. Isso
é algo que leva muito do seu tempo e foco. Então, vou criando esse mecanismo de
inserção para contribuirmos em todas as instâncias da universidade. Isso é
bastante desafiador! Acho que nós só temos noção quando entramos como professor
na universidade pública porque o primeiro vislumbre da profissão é pautado no
que víamos como alunos, ou seja, o que os nossos professores faziam. Essa parte
da gestão e das relações institucionais são necessárias para que a universidade
sobreviva. Só temos noção quando entramos como docentes. Não conseguimos nos
desvencilhar desse papel mesmo quando fora desse espaço. A pandemia acabou
deixando muito claro como vamos criando estratégias para ensinar e fazer
pesquisa dentro das diferentes situações. São diversos papéis que muitas vezes
não são facilmente visíveis e que ultrapassam a sala de aula.
Acho que a UFF Campos tem uma
peculiaridade muito interessante, pelo menos durante a minha trajetória, de ser
um campus exclusivo de Ciências Humanas. É um espaço que reúne colegas,
docentes e discentes interessados nesse grande campo de conhecimento. Acredito
que isso potencializa muitas iniciativas de reflexão e proposição sobre a
realidade, principalmente, na região do norte fluminense. Minha trajetória já
tem um caráter interdisciplinar dentro desse grande campo e a minha inserção
aqui se deu muito por meio dessa perspectiva. Tenho pesquisas com colegas dos
cursos de Economia, Geografia e Serviço Social. Produzimos pesquisas e
atividades de extensão que dialogam com as várias áreas da Ciências Sociais
Aplicadas. Meu ingresso como professora da pós-graduação também ajudou nesse
aspecto. Tenho colegas de variadas áreas que fazem parte desse meio junto
comigo e essa interação é muito boa, pois vemos a interdisciplinaridade
acontecendo. O que acho mais interessante é que quando temos uma questão ou um
ponto de reflexão, temos acesso a essas áreas e permitimos que elas contribuam
nos dando diferentes olhares e diferentes respostas que geralmente se
complementam na compreensão de determinada realidade e objeto. Por exemplo, em
um projeto interdisciplinar que desenvolvemos sobre as inundações na região,
pude aprender muito com colegas do Serviço Social e suas análises sobre
as políticas públicas e com colegas da Geografia a respeito da paisagem desses
territórios. Assim, é possível uma interpretação mais ampla sobre questões da
história e da natureza na formação daquele espaço. Essas contribuições são
fantásticas!
Em relação à organização da UFF,
que tem a sede em Niterói e alguns institutos espalhados pelo estado do Rio de
Janeiro, muitas decisões que temos que tomar dependem de nos reportarmos a
Niterói e solicitarmos uma orientação. Geralmente, as orientações que recebemos
se resumem a “ter que falar com Niterói”, “ligar para Niterói”, “mandar e-mail
para Niterói”. Quando estive na coordenação de curso de graduação, me
perguntava sempre que ouvia isso: “Quem é Niterói?”, chegava a ser engraçado,
para não dizer trágico, pois dependendo da sua dúvida, há específicos setores e
funcionários para contactar e até descobrir exatamente com quem falar era um
pouco tenso. Não há um único caminho em Niterói para a resolução dos problemas!
Essas questões institucionais
reverberam até os dias de hoje. Me pego questionando a possível mudança para o
novo prédio da UFF Campos, mais amplo e dividido. Espero não reproduzirmos esse
distanciamento, afinal, as relações são mais próximas aqui. Espero que, no novo
campus, possamos identificar esses caminhos para as relações
institucionais com mais leveza e facilidade.
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