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terça-feira, 21 de novembro de 2023

Diálogos em Memórias com Carlos Eugênio Soares de Lemos

 

Fonte: Acervo pessoal do prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos

Entrevistado: Prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos[i]

 

Thaymara: Professor, qual é a sua principal memória da UFF Campos?

 

Prof. Eugênio: A minha primeira memória é sobre a coordenação da Universidade para a Terceira Idade (UNITI), um projeto de extensão que assumi juntamente com outros colaboradores. Nós ganhamos alguns editais que possibilitaram a construção do nosso laboratório de informática, clube de xadrez, aulas de memória, coral e teatro, que atendiam/atendem a cerca de 500 idosos. Meu primeiro contato com a UFF foi através da minha pesquisa sobre envelhecimento, quando fui convidado para ministrar algumas palestras no projeto. Depois de um tempo, passei no concurso para a UFF em Campos. Então, quando eu cheguei na UFF, já tinha uma ideia direcionada de que iria trabalhar com a terceira idade. Eu fiz isso por cinco anos, depois me voltei para outros temas como a interface Linguística/História. Aprendi através de muitas trocas. Assim, algumas oportunidades se abriram para mim, tanto no campo da pesquisa quanto no da extensão. Enfim, trago muitas memórias afetivas do projeto UNITI, dos colegas com os quais trabalhei (Cecília, Silvia, Sylvio, Juliana, Ângela) e alguns já não estão por aqui, dos alunos de terceira idade com os quais tive contato e guardo boas lembranças. Também existem algumas produções audiovisuais que realizamos, curta metragens sobre os temas como: Direito ao envelhecimento, violência contra o idoso, aspectos biopsicossociais do envelhecimento, por exemplo. Essas lembranças eu sempre levarei comigo.

Além disso, me lembro da correria que vivenciamos no campus para expandirmos em função dos novos cursos e turmas que entrariam em 2010. Estávamos estruturando tudo, fazendo os concursos, organizando cursos, vendo os números das salas, e tínhamos que correr atrás de espaço. Foi um período muito difícil, e isso me remete ao fato de que havia a promessa de que no ano seguinte a minha entrada, em 2009, teríamos o prédio da XV de Novembro (novo prédio da UFF Campos). Já se passaram quinze anos dessa promessa.

                        Fonte: Acervo pessoal do prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos

Thaymara: Como a UFF Campos refletiu na sua trajetória profissional?

 

Prof. Eugênio: Na realidade, eu vim do Instituto Federal Fluminense (IFF). Em 2008, passei no concurso do IFF e da UFF. Primeiro, fui trabalhar no IFF, no campus de Búzio/Cabo Frio. Meses depois, fui chamado pela UFF. Meu grande objetivo não era a universidade. Na realidade, eu tinha uma trajetória de mais de quinze anos na Educação Básica. Quando entrei no IFF, me sentia confortável com a minha função (professor de História), pois estava em uma instituição muito boa, ao lado de colegas e dando aula sobre o que eu gostava. Mas ao ser chamado pela UFF foi um grande desafio, pois teria que me voltar para a formação de professores. Trabalhei em universidade privada, mas, infelizmente, não se tinha muita estrutura e, em grande parte, a formação se resumia a um fim mercadológico, sem a preocupação com a formação, extensão e pesquisa. Na UFF, teria/tenho a oportunidade de formar com mais qualidade. Por isso, aceitei esse desafio! Eu também sabia que, com a passagem do tempo, eu ficaria mais cansado ao trabalhar com o Ensino Médio. Então, trabalhar com adultos e discutindo assuntos de que eu gostava/gosto seria mais apaixonante. Tudo isso impactou a minha trajetória , principalmente, devido as especificidades que a Universidade demandava e demanda, tive que me dedicar a questões como ensino, gestão, pesquisas, extensão, orientações e produção de artigos.

 Fonte: Acervo pessoal do prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos

Thaymara: Poderia nos contar um fato curioso que você presenciou durante sua trajetória no campus?

Prof. Eugênio: Apesar de não ser, diretamente, comigo, presenciei alguns fatos curiosos no campus que são dignos de registro. Um deles foi durante a eleição do ex-presidente, Jair Bolsonaro, em que a UFF ficou muito visada. O Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional está instalado em uma cidade muito reacionária, que possui um doloroso passado escravista e uma dívida sem tamanho com as minorias, principalmente as pessoas pretas, pobres e periféricas. A expansão da UFF, aqui, em Campos dos Goytacazes, trouxe consigo muitos pesquisadores e professores comprometidos com diferentes causas sociais. Nesse comprometimento, acabamos incomodando com o nosso trabalho por meio de pesquisas, extensões, ensino, postagens, publicações, organizações de movimentos e manifestações. Por isso, acabamos sendo considerados rebeldes, incitadores, outsiders e contrários a certa ordem estabelecida.

                                 Fonte: Acervo pessoal do prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos

Na ocasião da eleição de 2018, fomos muito visados, e a polícia veio parar aqui no campus. Veio também a justiça eleitoral, e houve um enfrentamento com a comunidade acadêmica. Nós sofremos perseguição/denúncias de gente que se apresentava como defensores do status quo. Eles diziam que trabalhávamos com ideologia de gênero e comunismo, ou com sei lá o que imaginavam de subversão. Havia muita fantasia (distorção) nutrida por aqueles que falavam de nós sem nunca terem entrado na universidade, sem saberem que aqui temos um espaço diverso, de debate e reflexão, de diferentes colorações ideológicas. Evidentemente, onde há reflexão, haverá incômodo. A UFF, assim como a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e o IFF, são instituições importantes para o processo de modernização da cidade. São dolorosas as reflexões que nos propomos fazer, pois partimos sempre do fato de que não há crescimento sem dor, sem analisar a nossa própria miséria. Então, como servidores públicos, nesse sentido, fica o registro de todos os ataques difusos que nós sofremos e resistimos, respondemos não contra-atacando, mas com mais extensão, ensino, pesquisa e formando bons profissionais para a nossa comunidade e outros lugares do país.

                            Fonte: Acervo pessoal do prof. Dr. Carlos Eugênio Soares de Lemos



[i] Professor Associado IV do Departamento de Ciências Sociais da UFF, possui Graduação em História pelo Centro Universitário Fluminense (UNIFLU/FAFIC - 1995), Graduação em Letras- Português - (UNESA/2022), Especialização em História do Brasil pela UFF/Niterói (1997), Pós-graduando em Educação Especial e Novas Tecnologias (UFRRJ/CEDERJ/2023), Especialização em Psicanálise pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC/2016), Mestrado em Comunicação pela ECO/UFRJ (2002), Doutorado em Ciências Humanas (Sociologia) pelo IFCS/UFRJ (2007), Pós doutorando em História pelo PPGH da UFES (2022). Atualmente, é colaborador no projeto de extensão "Motirõ em Redes: memória, patrimônio e cultura", pesquisador do Laboratório de História Regional do Espírito Santo e Conexões Atlânticas (LACES/UFES), Imagina-Sul - Grupo de Estudos e Pesquisas da Imaginação e do Pensamento Político- Social no Sul do Mundo, e do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais (LAPECS).

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