Thaymara: Professor, qual é a sua principal
memória da UFF Campos?
Prof. Eugênio: A minha primeira
memória é sobre a coordenação da Universidade para a Terceira
Idade (UNITI), um projeto de extensão que assumi
juntamente com outros colaboradores. Nós ganhamos alguns editais que possibilitaram a construção do nosso
laboratório de informática, clube de xadrez,
aulas de memória, coral e teatro, que atendiam/atendem a cerca de 500 idosos. Meu primeiro contato com a UFF foi através da minha
pesquisa sobre envelhecimento, quando
fui convidado para ministrar algumas palestras
no projeto. Depois de um tempo, passei no concurso para a UFF em Campos. Então, quando eu cheguei na UFF, já tinha
uma ideia direcionada de que iria trabalhar
com a terceira idade. Eu fiz isso por cinco anos, depois me voltei para outros
temas – como a interface
Linguística/História. Aprendi através
de muitas trocas. Assim,
algumas oportunidades se abriram para mim, tanto no campo da pesquisa quanto no da extensão. Enfim, trago muitas memórias afetivas
do projeto UNITI, dos colegas com os quais trabalhei (Cecília, Silvia, Sylvio, Juliana, Ângela) e alguns já não
estão por aqui, dos alunos de terceira idade
com os quais tive contato e guardo boas lembranças. Também existem algumas produções audiovisuais que
realizamos, curta metragens sobre os temas
como: Direito ao envelhecimento, violência contra o idoso, aspectos biopsicossociais do envelhecimento, por exemplo. Essas lembranças eu sempre levarei comigo.
Além disso, me lembro da correria que
vivenciamos no campus para
expandirmos em função dos novos cursos e turmas que entrariam em 2010. Estávamos
estruturando tudo, fazendo
os concursos, organizando cursos, vendo os
números das salas, e tínhamos que correr atrás de espaço. Foi um período muito difícil, e isso me remete ao
fato de que havia a promessa de que no
ano seguinte a minha entrada, em 2009, teríamos o
prédio da XV de Novembro (novo prédio da UFF Campos). Já
se passaram quinze anos dessa promessa.
Thaymara: Como a UFF Campos
refletiu na sua trajetória profissional?
Prof. Eugênio: Na realidade, eu vim do
Instituto Federal Fluminense (IFF). Em 2008,
passei no concurso do IFF e da UFF. Primeiro, fui trabalhar no IFF, no campus
de Búzio/Cabo Frio. Meses depois, fui chamado pela UFF. Meu grande objetivo não era a universidade. Na
realidade, eu tinha uma trajetória de mais de quinze anos na Educação Básica.
Quando entrei no IFF, me sentia confortável com a minha função (professor
de História), pois estava em uma instituição
muito boa, ao lado de colegas e dando aula sobre o que eu gostava. Mas ao ser chamado pela UFF foi um grande
desafio, pois teria que me voltar para a formação de professores. Trabalhei
em universidade privada,
mas, infelizmente, não se
tinha muita estrutura e, em grande parte, a formação se resumia a um fim mercadológico, sem a preocupação com a formação,
extensão e pesquisa. Na UFF, teria/tenho a oportunidade de formar com
mais qualidade. Por isso, aceitei
esse desafio! Eu também sabia que, com a passagem do tempo, eu ficaria mais cansado
ao trabalhar com o Ensino Médio. Então,
trabalhar com adultos e discutindo assuntos de que eu gostava/gosto seria mais apaixonante. Tudo isso impactou
a minha trajetória , principalmente, devido
as especificidades que a Universidade demandava e demanda, tive que me dedicar a questões como ensino, gestão,
pesquisas, extensão, orientações e produção de artigos.
Thaymara: Poderia nos contar um fato
curioso que você presenciou durante sua trajetória no campus?
Prof. Eugênio:
Apesar de não ser, diretamente, comigo, presenciei alguns fatos curiosos no campus que são dignos de registro. Um deles foi durante a eleição do ex-presidente, Jair Bolsonaro,
em que a UFF ficou muito visada. O Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional está instalado em uma cidade muito reacionária, que possui um doloroso passado escravista e
uma dívida sem tamanho com as minorias, principalmente as pessoas
pretas, pobres e periféricas. A
expansão da UFF, aqui, em Campos dos Goytacazes, trouxe consigo muitos pesquisadores e professores comprometidos com diferentes causas
sociais. Nesse comprometimento, acabamos incomodando com o nosso trabalho por meio de pesquisas, extensões, ensino,
postagens, publicações, organizações de movimentos e manifestações. Por isso, acabamos sendo considerados rebeldes,
incitadores, outsiders e contrários a certa ordem
estabelecida.
Na ocasião da eleição de 2018, fomos
muito visados, e a polícia veio parar aqui no campus. Veio também a justiça eleitoral, e houve um enfrentamento com a comunidade acadêmica. Nós sofremos
perseguição/denúncias de gente que se apresentava como defensores do status quo. Eles diziam que trabalhávamos com ideologia de gênero e comunismo,
ou com sei lá o que imaginavam de
subversão. Havia muita fantasia
(distorção) nutrida por aqueles que falavam de nós sem nunca terem entrado na universidade, sem saberem que
aqui temos um espaço diverso, de debate
e reflexão, de diferentes colorações ideológicas. Evidentemente, onde há reflexão, haverá incômodo. A UFF, assim
como a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e o IFF, são
instituições importantes para o processo de
modernização da cidade. São dolorosas as reflexões que nos propomos fazer, pois partimos sempre do fato de que
não há crescimento sem dor, sem analisar
a nossa própria miséria. Então, como servidores públicos, nesse sentido,
fica o registro de todos os ataques
difusos que nós sofremos e resistimos, respondemos não contra-atacando, mas com mais extensão, ensino, pesquisa e formando bons
profissionais para a nossa comunidade e outros lugares
do país.
[i] Professor Associado IV do Departamento de Ciências Sociais da UFF, possui Graduação em História pelo Centro Universitário Fluminense (UNIFLU/FAFIC - 1995), Graduação em Letras- Português - (UNESA/2022), Especialização em História do Brasil pela UFF/Niterói (1997), Pós-graduando em Educação Especial e Novas Tecnologias (UFRRJ/CEDERJ/2023), Especialização em Psicanálise pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC/2016), Mestrado em Comunicação pela ECO/UFRJ (2002), Doutorado em Ciências Humanas (Sociologia) pelo IFCS/UFRJ (2007), Pós doutorando em História pelo PPGH da UFES (2022). Atualmente, é colaborador no projeto de extensão "Motirõ em Redes: memória, patrimônio e cultura", pesquisador do Laboratório de História Regional do Espírito Santo e Conexões Atlânticas (LACES/UFES), Imagina-Sul - Grupo de Estudos e Pesquisas da Imaginação e do Pensamento Político- Social no Sul do Mundo, e do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais (LAPECS).
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