Escrito por Rodrigo Piquet Saboia de Mello (Museu do Índio/FUNAI)
Uma das grandes modificações que o capitalismo
efetuou nas últimas décadas foi a das relações de trabalho por meio das
tecnologias de informação e comunicação, também conhecidas como TICs. Estas
transformações aprofundaram a acumulação capitalista e a concentração de poder
econômico nas mãos da burguesia internacional detentora dos conhecimentos
tecnológicos necessários para levar a cabo as novas empreitadas do capital.
Um exemplo de
relevância deste novo modelo de exploração da classe proletária ocorre com o
emprego maciço dos aplicativos de mobilidade urbana, como Uber e Cabify. Com
sede em países capitalistas centrais, no caso, Estados Unidos e Espanha,
respectivamente, os trabalhadores de países periféricos como o Brasil estão
tendo que se submeter a jornadas extenuantes de trabalho em que boa parte da
mais-valia obtida é canalizada para empresas transnacionais que negociam suas
ações em Wall Street.
Como bem sabemos,
o Brasil vive uma crise econômica sem precedentes em nossa história. Somada a
conjuntura política pouco favorável aos mais pobres, o Governo Bolsonaro e seus
asseclas (Guedes e companhia) estão fazendo o que prometeram em campanha:
acabar com todas as garantias trabalhistas e previdenciárias dos trabalhadores.
Do pacote de crueldades contra os mais necessitados, a primeira da pauta foi a
reforma da previdência que praticamente eliminou a possibilidade da classe
trabalhadora de se aposentar.
A situação dos
trabalhadores de mobilidade urbana ainda se manifesta de forma mais
preocupante: a maioria não contribui para a previdência social, ficando assim
não cobertos por eventuais problemas de saúde, acidentes ou pela possibilidade
de uma aposentadoria no futuro. Apenas a título de exemplo, só a cidade do Rio
de Janeiro dispõe de mais de 150 mil trabalhadores cadastrados no Uber. Estes
trabalhadores vivem o reflexo da revolução permanente que o capital impinge ao
proletariado, os transformando em meros instrumentos da acumulação capitalista
para acionistas dos países centrais.
As organizações
políticas de vanguarda, como movimentos sociais, sindicatos e partidos de
esquerda devem desenvolver um forte movimento de consciência de classe junto a
estes trabalhadores precarizados na ordem capitalista atual. A sua organização
é a capacidade que a esquerda terá em produzir novos alicerces para conquistas
sociais, como uma maior regularização do trabalhador de mobilidade urbana e de
entendimento atual do momento político do país.
Do ponto de vista
pragmático, uma ação propositiva para uma expressiva melhoria da renda destes
trabalhadores seria a eliminação dos aplicativos à disposição e fomentado pelos
capitalistas estrangeiros. Assim como a valorosa classe dos taxistas que
conseguiram a criação de um aplicativo da Prefeitura do Rio de Janeiro que não
remetesse os lucros para o exterior, os demais trabalhadores de mobilidade
urbana deveriam lutar junto aos movimentos de esquerda pelo desenvolvimento de
ferramentas de trabalho de origem nacional, diminuindo acentuadamente a
exploração capitalista internacional, assim como ajudando na arrecadação que os
municípios viessem a ter.
Para nós,
trabalhadores com formação política e consciência de classe, sabemos o quanto
tem sido difícil nos dias atuais a mobilização do proletariado e o
desenvolvimento de pautas reivindicatórias contra a precarização das relações
de trabalho e da exploração pelo capital. Assim, os movimentos de
conscientização e organização dos trabalhadores devem ocorrer nas mais diversas
esferas, mas, principalmente, por meio de um sindicato atuante, de base e luta
em que motoristas sejam os protagonistas de um novo modelo organizacional do
trabalho.
Fruto do
desemprego que assola milhões de brasileiros no país, muitos trabalhadores
encontraram como a única fonte de sustento a submissão às empresas capitalistas
internacionais que chegam a ficar com até 40% do lucro obtido por mobilidade
efetuada. Infelizmente, até o presente momento, o parlamento brasileiro não
teve a disposição (ou o interesse) necessário para que nossa classe proletária
não se torne um estrato de exploração e marcante precarização dessa massa de
indivíduos que se submetem a jornadas de trabalho extenuantes, sem qualquer
garantia previdenciária ou trabalhista, para tentar sustentar suas famílias.
As transformações
resultantes da revolução permanente que o capitalista impõe a classe
trabalhadora são inexoráveis frente ao desenvolvimento e novas formas de
investimento do capital. Conforme dizia o velho Marx, o capitalismo tem como
característica uma constante revolução dos meios de produção assim como uma
permanente fabricação de crises cíclicas, como a que presenciamos em solo
brasileiro nos dias atuais. Fora uma transformação socialista que venha
libertar os grilhões dos milhões de trabalhadores ao subjugo do capital, a
classe trabalhadora sucumbirá sempre a essas transformações, caso não haja a
consciência da importância que a luta política representa para os maiores
interessados que são os próprios operários do transporte, por exemplo.
Creio que os
movimentos vanguardistas de esquerda a favor dos operários do transporte tenham
a sua frente uma oportunidade única de organização desses trabalhadores e de
desenvolvimento do movimento sindical e partidário. Apesar de todo um momento
político retrógrado e de ataques aos direitos da classe trabalhadora, vejo que
com uma agitação política propositiva somada a construção de novas lideranças
políticas de esquerda de trabalhadores dos aplicativos, o movimento dos
trabalhadores ganhará novos ares com mobilizações de maior representatividade,
resultando em vitórias para o movimento de esquerda como um
todo.
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