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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Uber ou Cabify?: as novas transformações da exploração capitalista dos trabalhadores de mobilidade urbana

Escrito por Rodrigo Piquet Saboia de Mello (Museu do Índio/FUNAI)

 

Uma das grandes modificações que o capitalismo efetuou nas últimas décadas foi a das relações de trabalho por meio das tecnologias de informação e comunicação, também conhecidas como TICs. Estas transformações aprofundaram a acumulação capitalista e a concentração de poder econômico nas mãos da burguesia internacional detentora dos conhecimentos tecnológicos necessários para levar a cabo as novas empreitadas do capital.

Um exemplo de relevância deste novo modelo de exploração da classe proletária ocorre com o emprego maciço dos aplicativos de mobilidade urbana, como Uber e Cabify. Com sede em países capitalistas centrais, no caso, Estados Unidos e Espanha, respectivamente, os trabalhadores de países periféricos como o Brasil estão tendo que se submeter a jornadas extenuantes de trabalho em que boa parte da mais-valia obtida é canalizada para empresas transnacionais que negociam suas ações em Wall Street.

Como bem sabemos, o Brasil vive uma crise econômica sem precedentes em nossa história. Somada a conjuntura política pouco favorável aos mais pobres, o Governo Bolsonaro e seus asseclas (Guedes e companhia) estão fazendo o que prometeram em campanha: acabar com todas as garantias trabalhistas e previdenciárias dos trabalhadores. Do pacote de crueldades contra os mais necessitados, a primeira da pauta foi a reforma da previdência que praticamente eliminou a possibilidade da classe trabalhadora de se aposentar.

A situação dos trabalhadores de mobilidade urbana ainda se manifesta de forma mais preocupante: a maioria não contribui para a previdência social, ficando assim não cobertos por eventuais problemas de saúde, acidentes ou pela possibilidade de uma aposentadoria no futuro. Apenas a título de exemplo, só a cidade do Rio de Janeiro dispõe de mais de 150 mil trabalhadores cadastrados no Uber. Estes trabalhadores vivem o reflexo da revolução permanente que o capital impinge ao proletariado, os transformando em meros instrumentos da acumulação capitalista para acionistas dos países centrais.

As organizações políticas de vanguarda, como movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda devem desenvolver um forte movimento de consciência de classe junto a estes trabalhadores precarizados na ordem capitalista atual. A sua organização é a capacidade que a esquerda terá em produzir novos alicerces para conquistas sociais, como uma maior regularização do trabalhador de mobilidade urbana e de entendimento atual do momento político do país.

Do ponto de vista pragmático, uma ação propositiva para uma expressiva melhoria da renda destes trabalhadores seria a eliminação dos aplicativos à disposição e fomentado pelos capitalistas estrangeiros. Assim como a valorosa classe dos taxistas que conseguiram a criação de um aplicativo da Prefeitura do Rio de Janeiro que não remetesse os lucros para o exterior, os demais trabalhadores de mobilidade urbana deveriam lutar junto aos movimentos de esquerda pelo desenvolvimento de ferramentas de trabalho de origem nacional, diminuindo acentuadamente a exploração capitalista internacional, assim como ajudando na arrecadação que os municípios viessem a ter.

Para nós, trabalhadores com formação política e consciência de classe, sabemos o quanto tem sido difícil nos dias atuais a mobilização do proletariado e o desenvolvimento de pautas reivindicatórias contra a precarização das relações de trabalho e da exploração pelo capital. Assim, os movimentos de conscientização e organização dos trabalhadores devem ocorrer nas mais diversas esferas, mas, principalmente, por meio de um sindicato atuante, de base e luta em que motoristas sejam os protagonistas de um novo modelo organizacional do trabalho.

Fruto do desemprego que assola milhões de brasileiros no país, muitos trabalhadores encontraram como a única fonte de sustento a submissão às empresas capitalistas internacionais que chegam a ficar com até 40% do lucro obtido por mobilidade efetuada. Infelizmente, até o presente momento, o parlamento brasileiro não teve a disposição (ou o interesse) necessário para que nossa classe proletária não se torne um estrato de exploração e marcante precarização dessa massa de indivíduos que se submetem a jornadas de trabalho extenuantes, sem qualquer garantia previdenciária ou trabalhista, para tentar sustentar suas famílias.

As transformações resultantes da revolução permanente que o capitalista impõe a classe trabalhadora são inexoráveis frente ao desenvolvimento e novas formas de investimento do capital. Conforme dizia o velho Marx, o capitalismo tem como característica uma constante revolução dos meios de produção assim como uma permanente fabricação de crises cíclicas, como a que presenciamos em solo brasileiro nos dias atuais. Fora uma transformação socialista que venha libertar os grilhões dos milhões de trabalhadores ao subjugo do capital, a classe trabalhadora sucumbirá sempre a essas transformações, caso não haja a consciência da importância que a luta política representa para os maiores interessados que são os próprios operários do transporte, por exemplo.

Creio que os movimentos vanguardistas de esquerda a favor dos operários do transporte tenham a sua frente uma oportunidade única de organização desses trabalhadores e de desenvolvimento do movimento sindical e partidário. Apesar de todo um momento político retrógrado e de ataques aos direitos da classe trabalhadora, vejo que com uma agitação política propositiva somada a construção de novas lideranças políticas de esquerda de trabalhadores dos aplicativos, o movimento dos trabalhadores ganhará novos ares com mobilizações de maior representatividade, resultando em vitórias para o movimento de esquerda como um todo.

 


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