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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Diálogos em memória com Frederico Carlos de Sá Costa

 

Foto: Acervo pessoal do professor Frederico Costa

Entrevistado: Prof. Dr. Frederico Carlos de Sá Costa[i]

 

Thaymara de Assis: Professor, qual é a sua principal memória na UFF Campos?

Frederico Costa: Muito embora eu esteja na UFF Campos desde 2020, boa parte das minhas aulas foram onlines por conta da pandemia. Apenas em 2022 que eu comecei a dar aula no campus. Trabalhei na UFF Niterói de 2011 a 2020, como professor da graduação do curso de Relações Internacionais.  Profissionais de Ciências Sociais sabem a importância de trabalhar em uma universidade pública e entrar para a UFF foi uma conquista. Aquela sensação de realização depois de muito trabalho. Minha maior memória na UFF é a posse do cargo de docente depois do 4° concurso que prestei. Então, foi muito esforço e tenacidade envolvida. Essa memória me trouxe a perspectiva de não desanimar e desistir, pois uma hora chegaria o meu lugar na fila. Era um estágio da minha vida profissional que eu almejava desde o mestrado em 1999.

            Defendi minha tese em 2008 e em 2011 entrei na UFF, após passar 10 anos lecionando em universidades particulares. Isso me trouxe muita realização! Ainda estou me readaptando a dar aula à noite e em um campus do interior. Lecionei por nove anos aulas pela manhã em Niterói e a experiência de dar aula em turnos distintos é bem diferente. Apesar do campus pequeno da UFF Campos, estou conhecendo o espaço de fato aos poucos. Criar familiaridade em um espaço sem prédio é diferente do que conheço. Quando nos mudarmos para o novo prédio, serei estrangeiro como todo mundo. A questão do espaço é muito significativa. Em Niterói, tive alunos oriundos de municípios como Nova Iguaçu e Santa Cruz e eles tinham que acordar de madrugada para estarem na aula às 7 horas. Há um preconceito generalizado de que o estudante do interior é pior do que o estudante de campus de grandes cidades e capitais. Isso é profundamente infundado, já que nessa minha experiência, pude comprovar a qualidade semelhante entre eles, mesmo em ambientes e turnos distintos. Eu fiz minha graduação à noite e sei que o alunado costuma estar cansado fisicamente e mentalmente depois de um dia cheio e, consequentemente, a pessoa acaba tendo que lutar mais para apreender o conteúdo. É bastante diferente ter aula depois de uma noite de sono que ter aula depois de um dia de trabalho. Os perfis dos discentes são bem parecidos nesse sentido. Entretanto, aqui em Campos existe uma concentração de estudantes que ambicionam licenciatura, enquanto no curso de Relações Internacionais os interesses partem mais para o bacharelado. Nesse sentido, as diferenças são notáveis.

Thaymara de Assis: Qual foi o impacto da UFF na sua trajetória profissional?

Frederico Costa: Na universidade particular não existe pesquisa, o foco é apenas nas aulas. Eu já ministrei 50 aulas por semana, uma coisa bem operária. Na UFF e nas universidades públicas, em geral, a ideia é que você dê poucas aulas e tenha tempo para sua pesquisa e projetos. Nesse sentido, é uma realidade muito diferente. As universidades públicas estão muito distantes das faculdades particulares, uma diferença que dá para contar em anos luz. Sem contar que na instituição privada, você tem um patrão, há um empresário por trás da faculdade que visa o lucro. Eu já fui demitido em uma faculdade particular por telegrama dois dias antes do Natal. Você tem que bater ponto, e existe uma cota para a existência de mestres e doutores na composição do quadro de docentes, se essa faculdade já tem sua cota de mestre e você defende sua tese estando lá, você pode ser demitido, pois a faculdade não precisa de mais um mestre. Você está fora do número permitido. A imensa maioria funciona com uma lógica de colégio, diferente das instituições públicas. O incentivo à pesquisa não existe. É um mercado de trabalho bastante difícil.  O estímulo que temos com relação à pesquisa e ocupar outros cargos como chefe de coordenação e departamento é muito marcante em minha carreira. Alinhar os meus interesses com os da universidade é significativo para mim, pois não existe pesquisa que não ressoe nas aulas e na universidade de modo geral.

Di

[i] Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996), mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002) e doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro - IUPERJ (2008). Professor Associado da Universidade Federal Fluminense, na cadeira de Teoria Política. Professor credenciado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro.

 


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