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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O papel da extensão universitária na comercialização de produtos da Reforma Agrária no estado do Rio de Janeiro

 

Foto: Nathalia Gonçales

Escrito por Nathalia Ferreira Gonçales[1] e Celso Alexandre Souza de Alvear[2]

 

 

A extensão universitária, sob o princípio de sua indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove ações dialógicas entre universidade e outros setores da sociedade (FORPROEX, 2012). Buscamos apresentar o projeto “Construção de Ferramentas de Comercialização de produtos da Reforma Agrária no estado do Rio de Janeiro” a partir de uma perspectiva comprometida com a ampliação do trabalho realizado pelos movimentos sociais, fortalecendo a autonomia do trabalhador do campo e o desenvolvimento participativo de tecnologias engajadas com os territórios de atuação. Neste sentido, apostamos na aliança entre saberes acadêmicos e populares, por meio de uma dinâmica interdisciplinar que contribui na formação de estudantes e técnicos envolvidos em prol da pesquisa, extensão e ensino, estimulando a universidade no cumprimento de um de seus objetivos fundamentais, a saber, a produção de conhecimentos orientados para as demandas populares.

O projeto buscou desenvolver um sistema de comercialização de produtos oriundos da Reforma Agrária no estado do Rio de Janeiro, possibilitando a organização do trabalho e aperfeiçoando a experiência entre os espaços de comercialização e os consumidores através da Tecnologia Social (DAGNINO, 2014) implementada no site do Armazém do Campo (http://rio.armazemdocampo.com.br). A loja física do Armazém do Campo está localizada na Lapa, região central da cidade, sendo um espaço de comercialização organizado pelo MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – para a venda de produtos de assentamentos da Reforma Agrária, cultivados por pequenos agricultores ou produzidos por empresas parceiras, de forma orgânica e agroecológica.

Entre as atividades realizadas pelo projeto, que buscou dialogar diretamente com os produtores, realizamos sucessivas visitas aos assentamentos do MST nas regiões de Campos dos Goytacazes, Piraí e Macaé. No total, reunimos 19 fornecedores e parceiros que contribuem com sua produção e integram a loja do Armazém do Campo. O processo de dialogar com a/o agricultor(a) que cultiva o produto foi determinante para encurtar as pontes entre campo e cidade, criando um rosto e contando uma história particular para cada mercadoria comercializada na loja. Além de reunir iniciativas de famílias assentadas e cooperativas que extraem da agroecologia sua fonte de renda, buscamos mostrar que é possível construir uma economia solidária através de uma perspectiva capaz de ampliar a percepção do consumidor para uma relação de proximidade com o produtor e sua terra. Desse modo, as cooperativas, os assentamentos, os coletivos de produção e as famílias agricultoras são os protagonistas do conteúdo que compõe o site, ganhando um espaço de destaque para apresentação da trajetória desses atores na Reforma Agrária Popular.  



       Foto: Nathalia Gonçales

Um dos elementos essenciais do sistema foi a premissa do Software Livre, ou seja, seu código deveria ser aberto ao uso, distribuição e alteração de forma gratuita, sem necessidade de pedir permissão ao desenvolvedor. Ao longo da construção da ferramenta, foram realizados diversos ciclos curtos de especificação, utilizando metodologias ágeis, com objetivo de desenvolver as funcionalidades mais urgentes, além de realizar testes participativos e verificações. Dessa forma, diferente dos métodos tradicionais de Engenharia de Software que levam um grande tempo especificando todas as funcionalidades para só depois desenvolver o sistema, nas metodologias ágeis busca-se um desenvolvimento mais interativo.

Um dos principais eixos de trabalho que mobilizaram o projeto foi a simplificação do layout do sistema, para auxiliar as atividades de comercialização de grupos com pouca ou nenhuma familiaridade com sistemas tecnológicos. Criamos um painel de administração com as funções mais utilizadas por seus usuários. Após a implantação da ferramenta no site de comercialização, a equipe concentrou esforços na elaboração de manuais com orientações para gestão do sistema, trazendo conteúdos explicativos e diretrizes para a instalação das funcionalidades. Além disso, foram realizadas diversas oficinas de capacitação para qualificar os usuários no manuseio do painel de administração. O projeto possibilitou a entrega de um sistema de comercialização desenvolvido a partir de uma perspectiva comprometida com o fortalecimento dos movimentos sociais, ampliando o lastro de atuação dessas organizações populares através do uso de novas tecnologias.


Referências bibliográficas:

 

DAGNINO, Renato. Tecnologia Social: contribuições conceituais e metodológicas. Campina Grande: EDUEPB, 2014.

FORPROEX - Fórum De Pró-Reitores De Extensão Das Instituições De Educação Superior Públicas Brasileiras Plano Nacional De Extensão Universitária. Política Nacional de Extensão Universitária. 2012. http://www.renex.org.br/documentos. Acesso em: 25 de novembro de 2022.

 



[1] Professora substituta do Departamento de Ciências Sociais de Campos da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutoranda e mestre no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

[2] Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social/Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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