Escrito por Milton Ferreira Lima dos Santos[1]
No
espaço dos últimos dois séculos (XIX e XX), o mundo testemunhou a transformação
de uma época, onde a história enquanto disciplina era tradicionalmente voltada para
uma história política, mas passou a ser explicada no século XX por uma história
problema[2]. A
partir dos desafios[3] presentes
na mudança do breve século XX, esta história problema encontrou na produção
historiográfica de Eric Hobsbawm, “A Era dos Extremos” [4], a
qual joga luz sobre os desafios do mundo marcado por uma nova história (BURKE,
1990).
O
historiador que esteve acostumado a lidar com o passado ou como lembra Fernand
Braudel (1965) com a longa duração (onde a propaganda de guerra dizia: ainda há
lugar para você), tem a partir da primeira guerra mundial o estudo comparativo
entre nações de Marc Bloch. Quando retomamos Hobsbawm, lembramos que o autor
dispôs de uma trilogia (A Era da Revolução A Era do Império e A Era dos Extremos)
da qual utilizaremos em nossa análise, a última obra que remete o pós-guerra e
o capitalismo.
A obra supracitada de Eric Hobsbawm tratando do breve século XX discorre sobre a primeira guerra mundial até o ano de 1991[5]. O colapso da união soviética no século das revoluções teve que lidar com a desintegração dos impérios. A primeira guerra mundial desencadeou a desintegração do império russo (SHARPE, 1997).
Para
Menduni (1973), o século XX testemunhou com a historiografia de Hobsbawm na
Inglaterra outra produção historiográfica do capitalismo. Sobre a recepção do
capitalismo na Itália vale lembrar que neste período os historiadores italianos
estavam preocupados com a questão da unidade nacional em meados dos anos de 1970.
É importante lembrar que os estudos de Gramsci sobre a luta de classes italiana
influenciaram Hobsbawm, principalmente no texto intitulado “I ribelli”. O texto sobre os rebeldes
“confirma a particularidade substancial do interesse de Hobsbawm, que se reúne
em torno de transformações revolucionárias” (MENDUNI, 1973, p. 684). Portanto,
se os últimos dois séculos apresentaram uma nova história, e a historiografia
estudada indicará a luta por direitos civis como veio apontar Hegel, tanto a
filosofia política, quanto a filosofia do direito (LOEWENSTEIN, 1973), serão
objeto de estudo da teoria da constituição.
O
capitalismo e a ciência política como temas quentes na história política
O debate histórico deste mundo em
mudança encontrará na ciência política o comportamento humano frente aos
conflitos sociais oriundos do pós-guerra do século XX. Por isso, o tema quente
do século XXI será o capitalismo – e esse debate será polêmico. De acordo com Kocka (2011), o conceito ou
substantivo “Capitalismo”, apenas viria a se firmar, na segunda metade do
século XIX[6]. Antes
do século XIX o termo não tinha tanta referência, pois, termos como capital e
capitalista[7] eram
mais utilizados até então. Na Alemanha do século XVI, por exemplo, Kapital era visto na escala comercial, o
que mudaria quando disciplinas como, as ciências sociais e as ciências
econômicas apareceram nos séculos XVII e XVIII (KOCKA, 2011, p. 5). O social é
visto por uma disputa entre as novas ciências humanas, o que significa dizer
que, as ciências sociais uma vez em disputa deixam como legado uma a outra, o
caráter abrangente de estudar o social por completo. Assim a economia encontra
a história, a geografia e a sociologia “na construção de um mercado comum”. “(...)
É preciso que, quando desta tomada em comum de técnicas e conhecimentos, cada
um dos participantes não permaneça limitado no seu trabalho particular, cego ou
surdo, como no passado (...)” (BRAUDEL, 1965, p. 262). O fenômeno do poder[8] é
constantemente estudado pela ciência política e pela filosofia política, como
também o é, pelas ciências sociais em geral; e tal estudo sobre o poder já vem
sendo discutido por séculos através de grandes teóricos como, Aristóteles,
Maquiavel, Montesquieu, Rousseau e Lenin (LOEWENSTEIN, 1973, p. 24). No
entanto, a partir de conceitos como, comunismo, socialismo e capitalismo, entre
a história política e a social que crescia surgira à sociologia e para ciência
política é dado, o estudo do objeto de poder.
Se
por um lado a história política dos últimos dois séculos teve de lidar com o
que Bloch, ao estudar a monarquia[9],
chamou de história política da Europa, quando compara na longa duração o poder
peculiar do rei sobre a psicologia religiosa e o milagre da fé, por outro como
um milagre econômico, o capitalismo teve desde a revolução industrial seu modo
de dividir para reinar. O capitalismo do século XX, tal como liberalismo ou tal
como neoliberalismo, é direcionado para o pensamento econômico da vida social
como mera mercadoria, por isso, o capitalismo deve ser relido no século XXI com
outra história política. Portanto, o capitalismo se renova e continua dividido
em disciplinas, é preciso para uma análise crítica de seu desenvolvimento uma
análise interdisciplinar e uma crítica para se buscar outros estudos do capitalismo
na história política quanto na ciência política.
Referências
Bibliográficas:
BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais:
a longa duração. Revista de História, [S. l.], v. 30,
n. 62, p. 261-294, 1965. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.1965.123422.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/123422.
Acesso em: 28 jun. 2022.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da
historiografia/ Peter Burke; tradução Nilo Odalia. – São Paulo: Fundação
Editora da Unesp, 1997.
LOEWENSTEIN,
Karl. Teoría de la
constitución. Reimpresión, 1979.
M.E.
Sharpe (1997) The Age of Extremes: A
History of the World, 1914-1991 by Eric Hobsbawm, Challenge, 40:2, 121-127,
DOI: 10.1080/05775132.1997.11471967. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1080/05775132.1997.11471967> Acesso em jun.2022.
[1] Mestrando
[2] “A insatisfação que os jovens Marc
Bloch e Lucien Febvre demonstravam, nas décadas de 10 e 20, em relação à
história política, sem dúvida estava vinculada à relativa pobreza de suas
análises, em que situações históricas complexas se viam reduzidas a um simples
jogo de poder entre grandes – homens ou países – ignorando que, aquém e além
dele, se situavam campos de forças estruturais, coletivas e individuais que lhe
conferiam densidade e profundidade incompatíveis com o que parecia ser a
frivolidade dos eventos”. (BURKE, 1990, p. 7).
[3] Ver Menduni
(1973); disponível em: Fra storia sociale e storia della società. Eric Hobsbawm on JSTOR
[4] Segundo Sharpe (1997) quando Hobsbawm
escreveu sobre o breve século XX – 1914 até 1991 –
[5] Ver
as obras da trilogia: The Age of
Revolution 1789-1848; The Age of Empire 1875 -1914.
[6] Ver (KOCKA, 2011) capítulo 1: O
nascimento de um conceito polêmico.
[7] Um capitalista no século XIX era aquele
que detinha um montante alto de capital, ou seja, dinheiro ou um patrimônio
considerado extenso, para viver de seus lucros. O capitalista era o
comerciante, o banqueiro, quem emprestava dinheiro, ou aquele que havia se
beneficiado de seu capital para gerar mais renda. Embora o capitalista também
fosse visto como um profissional que ganhasse dinheiro além da necessidade de
seu consumo (KOCKA, 2011, p. 6).
[8] “Cada vez com mais unanimidade se
considera o poder como a infraestrutura dinâmica das instituições
sociopolíticas. Não deixa de ser significativo, por outra parte, que a ênfase
que se põe em nossa geração sobre o poder como chave para a melhor compreensão
da sociedade estatal, tem vindo a substituir o interesse científico pelo
conceito de soberania que ao longo de tantos séculos ocupou um ponto de honra
tanto na teoria política como na prática do direito internacional”.
(LOEWENSTEIN, 1973, p. 24).
[9] Em sua obra Les Rois Thaumaturges, a qual fora vista por Ginzburg (1965) e
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