Ione Moreno. SEMCOM/Fotos Públicas
Escrito por Rodrigo Piquet Saboia de Mello
Um dos
principais vértices no processo de ensino-aprendizagem no âmbito escolar (e
acadêmico) é o componente avaliação. Isto porque a ação avaliativa não é um
mero instrumento burocrático de complemento da disciplina ofertada ou uma ação
punitiva para aqueles alunos que não tenham atingido as metas desejadas. A
avaliação é um instrumento profundo de complementação da ação pedagógica que
foi desenvolvida ao longo da relação dialógica entre corpo discente e docente.
E o porquê desta
discussão neste momento que deveríamos ou desejaríamos estarmos voltados para
as festividades de final de ano e nos prepararmos para o ano vindouro. Porque
este foi um ano absolutamente excepcional. Passamos praticamente todo 2020 sob
o espectro de uma nova doença chamada COVID-19.
Em função desta
doença e da falta de medicamentos comprovadamente eficazes, o mundo todo teve
que se preparar para um panorama inusitado desde o ano de 1918 quando tivemos a
última grande pandemia que foi a gripe espanhola. Diversos países adotaram
duras medidas de restrição de circulação de pessoas com o fito de ao menos
frear a expansão da doença com dois objetivos principais: evitar sobrecarregar
os sistemas de saúde e se preparar para que o avanço científico possa em um
curto período de tempo criar uma vacina para imunizar a humanidade.
Nesta efeméride
conturbada, uma das atividades mais afetadas por sua própria peculiaridade foi
o sistema escolar. Isto porque pelas escolas às vezes milhares de alunos e
alunas estão em circulação diariamente e são ambientes altamente propícios para
a propagação de uma doença que se transmite basicamente em contato com uma
outra pessoa pelo ar quando infectada.
A Secretaria
Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) atendendo a
determinação do Governo do Estado decidiu pelo fechamento de todas as unidades
escolares. Como uma forma de não desassistir completamente o corpo discente das
instituições escolares, a SEEDUC-RJ implementou uma plataforma online de
produção de conteúdo e interação com os alunos chamada Google Classroom.
A iniciativa foi uma tentativa emergencial da Secretaria de criar algum tipo de
instrumento de acompanhamento pedagógico e avaliativo dos seus milhares de
alunos. No entanto, problemas de magnitude apareceram.
Em conjunto com
a emergência da doença, ocorreu uma grave crise econômica, em que milhares de
trabalhadores perderam os seus empregos fruto do desaquecimento das atividades
produtivas. Conjugada a um país que já patinava na economia fazia tempo e do
alunado normalmente de origem mais periférica do sistema estatal de ensino, a
instrução remota se demonstrou um fracasso pela baixa adesão do sistema
implementado.
Quando do início
da execução do plano emergencial, se aventou a possibilidade de alunos e
professores receberem chips de acesso à internet para que se facilitasse
o acesso. Todavia, tal iniciativa não se concretizou. Pelos relatos do ambiente
escolar, diversos alunos tiveram que começar a trabalhar para ajudar no
sustento em casa, fora que muitos também ou não tem acesso à internet ou sequer
portam instrumentos tecnológicos como smartphones, tablets ou
computadores para que tenham acesso de fato a plataforma.
Neste momento de
final de ano temos o período determinante da vida dos alunos que são os
conselhos de classe, também conhecidos pela alcunha de COC. Nas discussões
iniciais, pude perceber algumas posturas mais duras, de que o baixo acesso a
plataforma fosse originado no desinteresse endêmico dos alunos ou que eles
tivessem que se esforçar para garantir que a relação aluno x professor fosse
atendida.
Como havíamos
dito anteriormente, vivemos um momento de grave excepcionalidade, em que toda a
sociedade foi afetada por uma doença que desestruturou o mundo inteiro. O
momento avaliativo que começou a se deslindar neste momento deverá sem sombra
de dúvida discutir não somente o processo de ensino-aprendizagem empregado,
como também toda a conjuntura na qual ainda estamos passando.
Apesar dos fortes
rumores de uma vacina eficaz para os próximos meses, professores e alunos ainda
enfrentarão um vigoroso desafio de manutenção e fortalecimento dos sistemas de
ensino, a adaptação a novos modelos de ensino-aprendizagem, como sistema à
distância e/ou híbridos, e aos desafios hercúleos de natureza econômica que
batem a porta de cada família, ainda mais aquelas mais desfavorecidas.
Por fim, o
momento é de reflexão, parcimônia e, principalmente, acolhimento para com os
alunos da rede pública de ensino. Se resumir como ação de avaliação a interação
numa plataforma onde muitos alunos sequer tiveram condições de acesso é limitar
o papel de professores e professoras que tem por principal responsabilidade
serem educadores de uma sociedade com uma oceânica desigualdade econômica,
social e educacional.
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